quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Os Passos de Leibniz (I)




Este é o cenário onde vou descrever os passos de Von Leibniz.  


É a Europa de ontem, de hoje e de amanhã, se nunca esquecermos todos aqueles que como Leibniz nos influenciaram porque foram, aconteceram e fizeram. Acima de tudo, deixaram-nos noções que fizeram estremecer as estruturas do nosso pensamento, abrindo mais pistas para encarar o mundo criado e o seu criador ou o mundo incriado. Com essas alavancas hoje estamos diferentes em muitas coisas. Noutras, infelizmente, por esquecimento dessas alavancas ou por falta de acesso a elas estamos como sempre estivemos. Mas, não é por falta de homens que teimam em procurar que não estamos muito melhores, em muitas mais coisas. E, é este princípio que nunca deve ser esquecido por nós europeus. Seguindo o pensamento de Leibniz, tomando cada um e o conjunto, unindo a diversidade pelos pontos comuns, poder-se-á dizer que a Europa tem uma "alma". 

Não interessa, vou recuar a 1645 para depois continuar.
Entro num período pós Reforma Protestante, segundo a influência de Martinho Lutero (1483, 1546) e num espaço inserido no Sacro Império Romano – Germânico (962, 1806). Este império variável em território ao longo do tempo, situado no centro da Europa, vivia um pós “guerra dos trinta Anos” (1618-1648). A penúria era muita em virtude daquelas lutas. Era dominado pelo imperador, ao tempo católico, mas rodeado de principados protestantes. Em certa medida é um império a caminho do enfraquecimento total, ao qual não foi alheio as lutas intestinas, intuitos expansionistas e invasões externas.
No decurso do ano de 1638 nasce o príncipe francês Luís XIV, futuro rei sol, soberano do iluminismo, sucessor de Luís XIII. Inicia o seu reinado com cinco anos, passando a França a ser governada pelo cardeal Mazarino até à maioridade do rei.  
Em 1640 Portugal liberta-se do poder espanhol dos Filipes, soberanos do império austro-húngaro.
Na Grã-Bretanha, vive-se um período de guerra civil de 1642 a 46, puritanos e presbiterianos escoceses, aliam-se ao parlamento contrário ao Rei Carlos I. Esta oposição sai vitoriosa sob o comando de Oliver Cromwell, que proclamou a República. O rei foi julgado e condenado pelo Parlamento, sendo a sua execução em 1649. Cromwell dissolveu o Parlamento que serviu, proclamou-se protector da Inglaterra e governou com poderes absolutos até à morte em 1658.
Salienta-se que Newton nasce em 1643.
Por volta do mês de Outubro de 1645, viviam em Leipzig, região da Saxónia, o casal Friedrich Leibnuz e Catharina Schmuck (sua terceira mulher), ambos de origem alemã, com ascendência eslava. Família piedosa e culta, praticantes da região luterana. Alguns antepassados do Sr. Leibnuz (em eslavo Lubeniecz) nas últimas três gerações tinham estado ao serviço do governo saxão. Ambos no aconchego do lar, aproveitam uma pausa e num acto de amor originam um novo ser. Começam a desmultiplicar-se as células de um dos reis da Metafísica.
No dia 01 de Julho de 1646, Catharina entra em trabalho de parto e nasce o rebento Gottfried Wilhelm von Leibnuz (nome que mais tarde altera para Leibniz ou Leibnitz).
Também ele teve um primeiro filósofo de orientação, o pai. O seu primeiro questionamento não ficou sem resposta, e também com igual probabilidade, entre brincadeiras teria ouvido muitas histórias das aventuras clássicas gregas e romanas. Uma pergunta possível na sua tenra idade terá sido:
-“Que língua é essa que lês em voz alta?”
-“É latim, meu filho.”
O pai era professor de filosofia moral (ética) na Universidade de Leipzig e possuía em sua casa uma excelente biblioteca, é ele quem lhe incute o gosto pelo estudo histórico...




segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O Fantas Acontece

Acontece também com muita escrita jovem.
Os colóquios no seu seio também devem elevar a discussão estética, portanto faltou mais "filosofia".
Mais inovação e tecnologia, para quê?
O Fantas já é inovação.
O cinema é uma linguagem sempre com um sentido estético.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Crítica (Revista de Filosofia)

A Revista “Crítica (Revista de Filosofia)” é um dos mesmos espaços. A sua qualidade traz dificuldade ao meu interesse o que me impulsiona a ser mais exigente.
Gostei muito da sua nova reformulação e organização.
Quanto ao donativo, lá terá que ser, depois de enquadrado pela receita. È menos uns copos, antes o descontrolo provocado pelo formalismo lógico do Desidério e seus acompanhantes, do que a intoxicação neuronal provocada pelo álcool. Sempre há malucos para tudo!


Revista Filosofia - Escala

A Revista Filosofia – Escala Brasil nº 7, para além de uma variedade de artigos temáticos, trás um artigo da autoria de Maria Martins Oliveira, acerca do triunvirato Sócrates, Platão e Aristóteles. É um texto agradável de ler que nos dá uma panorâmica sobre a evolução do pensamento destes três pilares, fazendo notar as influências de Heráclito e Parménides.
Outro artigo que me atraiu foi de Anna Covelli sobre a Falsafa árabe (Filosofia), nomeadamente, centrando-se em Ibn Tufayl. Ao passar os olhos pelo artigo, fiquei absorto perante uma citação da sua obra, que transcrevo:

“Que saibas: aquele que quer a “Verdade” sem véus, deve procurar segredos por conta própria e fazer todos os esforços em obtê-los”

Por detrás de um grande objectivo não deixa de haver um grande e atribulado caminho, por vezes leve, noutras ocasiões ele é pesaroso, em alguns passos triste e em muitos deles usufruímos de uma alegria imensa.    

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Leibnuz e os nossos alongamentos sucessivos Pág. 4

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constatar significa que nos apercebemos das relações que se estabelecem entre eles. Aprofundando, apercebemo-nos das relações espaciais dos acontecimentos, enquanto variável de mudança tempo, e apercebemo-nos das relações entre objectos num instante, enquanto variável de mudança espaço.

Es ist Zeit, den Kaffee zu verlassen und in Richtung der Freiheit meiner Heimat, wo wir unser Gespräch fortsetzen können, vor allem darüber, ob wir relacionistas, auf dem Atom zu verlängern, um seine Monade zu erreichen. Ihr Vermieter damit einverstanden? (Está na hora de deixarmos o café e nos dirigirmos para a liberdade da minha casa onde poderemos continuar a nossa conversa, nomeadamente, sobre o sermos ou não relacionistas, prolongarmos sobre o átomo até chegarmos à sua monada. Vossa senhoria concorda?)


Pequeno ensaio em volta de Reichsfreiherr Gottfried Wilhelm von Leibniz

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Leibnuz e os nossos alongamentos sucessivos Pág. 3


O ponto tem sido uma ferramenta muito útil na procura do obscuro. Ele funciona como um farol. O homem com o seu auxílio penetra nas estruturas com nano dimensões e afoita-se nas mega distâncias do universo em seu redor.

Referindo-me ao meu primeiro “.”, constato que ele existe, tem uma posição determinada e não pode ser dividido.

Mas, é destrutível. Basta pegar na borracha e faço-o desaparecer. Teve um início, um meio e há-de ter um fim, não é eterno. Sé é destrutível, não será difícil dissolvê-lo quer noutro lugar, quer na mente. Neste caso bastaria desviar a atenção para outros caminhos.

Ele é individual e unitário. Ele é uma “Monas”.

A partir dele reproduzimos uma infinidade deles todos idênticos, não distinguimos as propriedades uns dos outros, não percepcionamos diferenças entre eles.
Mas, isto não quer dizer que não possamos estabelecer relações entre eles, nomeadamente, geométricas, segundo um plano referencial, campo de manifestação de uma variação, onde pontos são funções de outros, onde conjuntos de pontos se aplicam noutros conjuntos.   

Verifica-se que, desde que foi desenhado, ele mantém a mesma posição e manterá, enquanto a nossa vontade permanecer, ele não possui um princípio interno que o impulsione ao movimento ou ao repouso. Ele tem a sua origem e assume outra posição conforme a imposição da nossa acção. Ele não tem a actividade como elemento da sua essência. A animação que, eventualmente, possa ter é conferida por outrem.   

Destaquei que o ponto pode ser encarado como instrumento de trabalho, em três níveis: mente, sentidos e extensão. Trabalho em o relevar na extensão, estando atento às variações e o trabalho consciente em reflectir com ele e a partir dele. Eu tenho as capacidades: percepção e apercepção (consciência e reflexão), só que o ponto é amorfo para lá do plano dos sentidos. Ele ondula ao sabor da variação da extensão. Com a sua infinidade indivisível ele é a marca de posição de algo material também dotado da mesma característica. Ele não é material, só o é enquanto grafismo. Ele é imaterial ao nível da mente, enquanto instrumento de trabalho no plano da consciência.

Disse que o ponto, na extensão, é carente de um princípio interno que lhe acalente o binómio repouso-movimento e que era amorfo, visto que ondula ao sabor da infimo-material-indivisível, através destas qualidades ele permite-nos imaterialmente detectar e conjugar as relações materiais verificadas.
A noção que temos do extenso baseia-se, em parte, na aceitação da informação sistemática que recebemos através dos sentidos, daí o concebermos como o palco, com o seu quê de volumétrico, sem paredes, nem chão e sem tecto, onde não sabemos onde terminam essas limitações. Sabemos que ele se deforma e enforma, se expande e se comprime e converge para um ponto ou diverge de um ponto ali ou acolá. Um modo de o conceber é considerarmos o “eu” como o ponto de intercepção de todas as rectas possíveis, passamos a ter o trunfo de percepcionar em todas as direcções. Em certa medida confundo universo com extenso-em-si. Mas, é nesse o palco onde proliferam corpos, que se apresentam como variações ou mudanças, uns são acessíveis às nossas capacidades e outros não caem no âmbito das nossas possibilidades. Agrupamos os corpos em conjuntos e aceitamos conjuntos sem corpos. Os corpos serão subdivididos em corpos efectivos, em corpos possíveis e em corpos impossíveis de alcançar pelas nossas capacidades. Relativizando o extenso-em-si para mais próximo das nossas possibilidades, considerando tal como o extenso, neste constatamos acontecimentos e objectos. O 
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quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Leibnuz e os nossos alongamentos sucessivos Pág. 2




sua pequenez é tal que a estrela longínqua é um ponto ou o neutrino na interioridade de um átomo é um ponto. O “ser diminuto” em relação ao ponto traz-nos uma dificuldade, a impossibilidade de concebermos a sua interioridade ou nela influirmos.
Voltando ao formato, em bom rigor, não podemos dizer que ele não assume uma figura. Assume, quando o desenhamos como mancha mínima numa tela. A bem dizer, ele é um objecto que não posso conotar com o zero, é próximo e é possível de ser visível. Claro que se abstraísse mais podia passar do ponto para o infinitésimo, algo que expressa aquilo que denoto não com o zero, se aproxima demasiado dele e não é visível.
Neste sentido diria: Ele é uma substância simples.

Será mesmo uma substância simples conforme a noção estabelecida pela metafísica leibniziana?

-Er liebte es, Euer Gnaden zu sagen, dass ich sehr bewundere für seine Metaphysik. Es ist eine großartige Art und Weise! (Gostava de dizer a vossa senhoria que muito o admiro pela sua metafísica. É um grande caminho!)

Pode acontecer que Leibniz empurre a carroça.

Este ponto considerado ali e há momentos é uma construção abstracta correspondente à impressão mínima no plano dos sentidos, veiculada ao plano da consciência. Com a impressão causada neste plano reflectimos, isto é, estabelecem-se assim relações emocionais, no plano mental a partir dele e segundo as relações dele com o seu correspondente real para lá do plano dos sentidos.
A consciência não suporta a extensão do real, pela evolução só lhe é permitido trabalhar com o grafismo mínimo adimensionado designado por ponto.
A reflexão ondulatória advinda de uma cómoda, com a qual somos impressionados, conduz-nos à esquina, ao ponto de intercepção de três planos (ou de três frisos), ao vértice da cómoda. Essa “ponta fina”, fim de uma coisa para depois dela ser outra, tem uma correspondência na consciência, uma impressão mínima adimensionada. Mas, eu quero mostrar o que é, então desenho um “.” Um fim de uma coisa e um princípio de outra. Aquilo que para nós é a pontinha da esquina da cómoda, ou seja, uma representação criada pela abstracção e imaginação segundo convenções, não deixando de ser um elemento base de qualquer representação do real. Portanto direi, desde já, que o ponto “é” pelo abstrair da extensão e pelo grafismo que lhe acoplamos, forma de o representar e descrever a sua substância.   

É um instrumento de trabalho. O aggregatum de dois pontos estabelece “uma nova posição para onde ir”, e se temos a possibilidade de ir, também temos a possibilidade de voltar, isto é, temos uma direcção para a nossa acção, com dois sentidos, temos uma recta. Atribui-lhe a capacidade de vaguear, de tal modo que, momento a momento, ele vai deixando marcas no terreno. E chegaremos com certeza a estruturas mais complexas. Cada ponto do plenum – universo é o ponto de intercepção de uma infinidade colossal de rectas, desviadas umas da outras pela inclinação angular, estendendo-se cada uma até ao infinito para lá e para cá desse ponto origem. Temos o universo como um conjunto infinito de pontos aconchegados uns aos outros. Separe-se muito ligeiramente os pontos, consideremos um fundo azul-escuro e os pontos todos brancos, com uma palete de cores, ficamos habilitados em dimensionar e enformar o universo. Ou, se fizermos vibrar alguns pontos, com determinadas frequências e intensidades, ficaremos habilitados em ouvir as músicas do universo.
... 

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Leibnuz e os nossos alongamentos sucessivos Pág. 1














Intoxicação com palavras, entre o extenso e o inextenso, sem recurso a produtos psicotrópicos. O alongar de palavras sem acção, qualificando ou desqualificando, em suma “uma grande pancada na caixa encefálica”.
Verto para o enxameado de pintas cinza conjuntos de pequenos desenhos brancos, representações do que campeia no centro nevrálgico de todos os meus neurónios, sinónimos de desconcerto e espanto. Arritmias da mente perante o que está para aquém e além da coisa tomada como tal.  

O extenso, o estendido, o parcelado, o composto de parcelas, o físico, palco da experiência, qualidade substantiva do criado, do que é, da realidade, do universo difíceis de encerrar. O materialismo científico e dialéctico, a possibilidade do concreto passeando de braço dado com o abstracto. O que se desenrola do muito próximo até ao muito longínquo, do por dentro até à fronteira sem o alcance da vista. O cenário dos jogos entre a energia e a massa, o campo vastíssimo da matéria, do seu deambular e das suas conexões. O próximo e a percepção das reflexões a partir do que se destaca. As referências e as dimensões. A arquitectura das estruturas. A duração do esforço sentido no ir e vir de um ponto a outro, para a frente e para trás, às curvas, aos ziguezagues ou a direito, repentina ou sempre igual, o repouso. A luta permanente entre perdas e ganhos. O que se eleva e o que se afunda, o que se estica e o que se comprime. O penetrável e o impenetrável, o que envolve e envolvemos, líquido ou gelatinoso, gasoso, fedorento ou irrespirável. Pesado ou leve, quente ou frio, suave ou agreste. Confortável ou desconfortável, que confortamos e provocamos. Causador da alegria até ao sofrimento. Vibra e assume a vibração, a tracção, a fricção, a inércia e o atrito. Ondula e suporta a ondulação. Nele se gera, se desmultiplica, se multiplica, se estaciona, se desintegra e se dilui como contribuição. Locomove-se a máquina, o animal, o peixe, a ave e o insecto. Teimoso como um raio, não deixa perceber o seu princípio, nem o seu fim, acalenta-se no seu vastíssimo meio, reserva para cada gerado uma pequeníssima parte, com um início e um fim determinados.

-Leibnuz, Ajuda-me a empurrar a carroça.
Não responde?
-Prontos, Gottfried Wilhelm von Leibniz, würde Ihre Lordschaft mir helfen, schieben Sie den Wagen? (Gottfried Wilhelm von Leibniz, vossa senhoria poderia-me ajudar a empurrar a carroça?).

…Aquele emaranhado de gatafunhos chegou a uma situação carente de algo. Algo que o finalize, ou lhe que lhe dê outro sentido à marcha. Já a seguir uma coisa será e um acontecimento ocorrerá por uma razão.
Considero-o aqui e agora: “.” O que se designa por ponto, final, de situação ou nova situação.
Imediatamente após a sua criação, a reflexão que dele advém causa uma impressão que se destaca nesta superfície. Verifico que: ele – é – algo distintivo; mas, não assume a condição: ele – não é – algo distintivo, nas mesmas circunstâncias.
Em condições normais, o circunstancialismo de eu estar próximo e perante ele num momento, o espaço que ocupa é tão ínfimo, tão ínfimo, que nem sequer coloco a hipótese de o comparar com uma unidade padrão, em rigor ocupa uma posição determinada. É algo onde não posso acomodar um volume ou uma superfície, é indivisível, dada a impossibilidade de o parcelar. Portanto, este necessário (agora e para outras composições) não tem extensão, ou dimensões, não lhe atribuímos um formato ou figura.
Será que o posso decompor? Não, porque se me fosse permitido a repartição originaria ainda dois ou mais pontos. Ele é extremamente diminuto, o alcance da ... 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

"Anónimo" II

Mencionou-se diálogo entre pessoas, desde logo, homens e mulheres que partem para acção com intenção voluntária, com consciência dos seus actos e na plenitude das suas capacidades.  À priori e de “boa fé”, quem se manifesta, fá-lo por uma boa razão. Portanto, existe uma causa para um efeito, de tal modo que não cause prejuízos para o autor, quer para o receptor. E é nestes termos que temos de nos centrar, entrega-se à dúvida o benefício. Mas, não podemos ser ingénuos, pois há sempre aquele ou aquela que gosta de furar a barreira da regra, por excesso de toxinas no cérebro, deficits de educação, ou sentimentos mal alinhados, parte com vontade, mas com a intenção de causar prejuízos a terceiros, ferindo as suas susceptibilidades, desejos e interesses. Neste ponto convinha frisar a necessidade de verificar bem a essência da mensagem, atestar bem a sua razoabilidade. Porque senão, pode muito bem acontecer, uma pessoa estar alertar para comportamentos nocivos, por exemplo faltas de responsabilidade, e ninguém prestar toda a atenção porque a mensagem não estava autenticada quanto ao autor, não lhe tendo sido atribuída autoridade para tal, e mais tarde lá vem o desabafo, “alguém nos tinha avisado”. O que interessa nesta caso não é o alguém, mas a substância do aviso.  
Outra abordagem:
Na origem, um emissor transmite num momento, um pacote de informação de um autor, que irradia através de um canal admitido num meio, e no destino, um receptor predisposto para aferir a mensagem.
Em momentos curtíssimos, sucessivos e muito rápidos passa-se o seguinte:
Na fase de recepção, somos impressionados por esse pacote de informação, modulado segundo características que lhe são próprias. A modulação é transformada, de modo a percorrer rapidamente os nervos até ao cérebro impressionando a tela da consciência, causando uma admiração relativa e a necessidade de comparação daquela modulação com outras anteriormente recebidas, isto é, a verificação ultra rápida de quais as diferenças na forma e na substância da coisa. Havendo diferenças significativas a este nível e ou nas primeiras impressões ao nível da pele, de imediato, somos levados a indagar a sua procedência, porque algo nos chama a atenção. Os nossos sentidos são impulsionados a dirigirem-se para o foco origem, procurando fazer coincidir o nosso tempo com o tempo da duração da emissão, procuramos sintonizar as nossas capacidades receptivas à coisa em vibração, de modo a dar-se uma percepção mais eficaz. Nesta fase, perguntámos: Quem está a enviar? Quem criou isto? Mas, fazemos mais, em função das nossas capacidades intrínsecas, vamos incorporando a modulação que estamos a receber, enquadramos os seus limites com os nossos próprios limites. As perguntas serão outras: o que é isto? E qual a finalidade de isto? Que razões há para isto? Entramos na valoração máxima da coisa agora presente, atribuímos importância e momentos de atenção redobrada.
Antes de continuar, convém reparar no seguinte, quando se fala ali de sintonia e modulação, estas operações indicam as nossas limitações, de acordo com as nossas capacidades, estabelecidas pela evolução até a um limite, recebemos o que sintonizamos, modulamos e tratamos. Assim sendo, admitimos que não está ao nosso alcance muitíssima modulação que nos circunda e invade, e temos que nos refugiar de parte significativa dela ou arranjar meios para ir ao seu encontro. Colocando-se nova pergunta: Quais as vibrações que não somos capazes de sintonizar, modular e tratar? Nesta resposta entra a filosofia como todo e a ciência como parte. É uma questão geradora de impulsos para conhecer. 

...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

“Anónimo” I


Ouço falar muito de “anónimo” e “anónimos”.
Nós vivemos numa sociedade carente de etiquetas. É etiquetas para tudo e para nada. São exigidos nomes e números para tudo e mais alguma coisa. Foi-se mais longe, já não chega o nome, é preciso a pessoa, o nome, todos os números, a ponta do dedo, a íris, o ip e o adn. Mas, enveredou-se, para muito mais longe é contrato assinado para tudo e mais alguma coisa. Muitas destas coisas são precisas e para algumas delas não se vislumbra a utilidade face aos resultados ou aos objectivos que se pretende.
Somos muitos e diferentes, onde muitos são desconhecidos e alguns mais ou menos conhecidos. Manter a dúvida corrompe e a etiqueta sempre ajuda a atenuar a dor. Vivemos socialmente de acordo com convenções aceites que temos de respeitar. Alguns, embora as aceitem, não as respeitam, ao não o fazer põem em causa a sociedade, no todo ou em parte.  
Estamos num mundo vastíssimo de uma imensidão de coisas e, por questões de utilidade, necessidade e entendimento é imperioso diferenciar umas das outras. Para tal, adoptamos convenções. Mas, o que fica para além das bordas da convenção?

“Anónimo” é um termo da língua portuguesa que deriva de outro termo grego “anónymos”, cujo significado é “sem nome”.
Alguns dicionários da língua portuguesa atribuem-lhe como qualificativo “sem nome”, “que não está assinado”, “não assinado” ou “que não se quer dar a conhecer”.

Esta terminologia remete-nos para algo corpóreo, no sentido substancial e formal, constituído por elementos fundamentais, ordenados sequencialmente segundos itens. Estamos perante algo conceptualizado como “mensagem”, fulcro na comunicação entre pessoas e que segue uma convenção. Pelos vistos, na sequência falta um elemento fundamental, a assinatura do autor da mensagem. Apesar de possuir todos os outros elementos, falta este elemento singular próprio do criador. Ele não cumpriu com as regras convencionadas e aceites, e daí se poderá deduzir que ele não se quer se dar a conhecer. Este facto, não impede a tomada de consciência sobre mensagem no seu todo, não impede a análise da sua substância e da sua forma. Seguindo à risca a convenção, e apesar da tomada de consciência citada, ela pode ser rejeitada ou colocada em suspenso, até à reposição do elemento em falta. O que dependerá da valoração que efectuamos à coisa. Ela tem algo substantivo que impele ao diálogo, embora possua uma deficiência formal. O problema, aqui, é que não somos capazes de reconhecer autoridade ao criador para o afirmado, para o exposto ou para o solicitado. O que não significa o abandono total da mensagem ou do diálogo, este segue por outras vias, até ao cumprimento das regras. Digamos que estamos a comunicar com alguém sem cara. Ora, o diálogo estabelece-se entre pessoas num meio, usando um canal de comunicação natural ou artificial. Nesta forma, o criador emitente apresenta-se perante o receptor, valorizam-se os intervenientes e a mensagem, reconhece-se a autoridade dos intervenientes e responsabilizam-se mutuamente perante o afirmado, exposto ou solicitado no contraditório. E, desse contraditório há-de sair o consenso mútuo que leva à solução da questão levantada. Digamos que os dois se sintonizam quantos aos meios para atingir fins.  
Mas, o que levaria alguém a equacionar uma mensagem e a publicitá-la sem elementos fundamentais, nomeadamente e como exemplo, com a ausência de elementos de facto como a sua assinatura, o seu nome, a sua morada, o seu número de telefone, …, não permitindo que alguém o reconheça como pessoa determinável?
Convém frisar, que nos tempos que correm, por falta de descrédito na confiança atribuível a uma pessoa, ela precisa de andar na carteira com documentos justificativos de muitos dos seus elementos fundamentais. Caminhamos para o ponto das cópias autenticadas comprovativas da identificação começaram a circular junto com uma mensagem num diálogo? E se tal vier a ocorrer, efectivamente, então estamos perante uma sociedade em que a confiança não faz parte do conceito pessoa. Perante tal, andamos a enganar-nos uns aos outros. Viver-se-á numa sociedade em que todos estão juntos, mas não conseguem estabelecer em pleno vínculos relacionais. Jogando na antevisão, sem qualquer ponta de pessimismo, existe a probabilidade de fazermos parte de uma sociedade humana descaracterizada, a sociedade do homem indivíduo e só.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Sangue do Meu Sangue



Conforme iniciativa do jornal “ Público” está a venda nas bancas este filme de João Canijo. Um filme, também, de Rita Blanco, Ana Moreira, Cleida Almeida, Rafael Morais e por aí fora. Este por aí fora é importantíssimo. Uma obra cinematográfica é uma coisa difícil de concretizar, por uma grande razão, o ser diferente com o empenho extenuado de muitos.
É uma obra premiada.
Se vou ver? Claro.
Deram-me as traves mestras do filme. Tenho boas razões para entrar dentro dele.
Pelo que tenho ouvido e visto, com prazer e admiração, posso dizer que aprecio o trabalho e o pensamento de Rita Blanco.
A minha estima estende-se a outros artistas do teatro e do cinema português. É já difícil escolher.
Um bilhete e umas palmas são grandes contribuições, melhor dizendo, são forças tremendas, vivificam as nossas artes e tonificam a nossa pessoa.  

Com que impressões fiquei?
Vi e ouvi o filme com muito interesse do princípio ao fim.
Deparei-me com o hiper-realismo iluminado e cavalgante até a um final aberto que nos deixa a pensar. Tudo mudará ou algo irá mudar? Tem como fulcro o Complexo de Electra (Jung) que se vai desabrochando até ao clímax, a surpresa, e como pano de fundo os subúrbios e os seus bairros. Presencia-se as vivências e as intensidades dramáticas das suas gentes. Uma mãe que não consegue viver fora dos extremos da vida, que se alimenta dos seus dramas, cujos filhos não lhe dão descanso, em que os outros ocupam a sua própria vida, e que une tudo e sobrevive com o amor a si própria e aos seus. 
Registo as grandes interpretações e contribuições dos diversos intervenientes, demonstrativas de um grande espírito de corpo e de esforço, aproveitando todos os bocadinhos que se possam encontrar em nome da qualidade, a que o Canijo não está alheio. Uma câmara em movimento que procura trazer outros posições para o olhar. A música é qb, o próprio filme já encerra em si uma musicalidade própria. Uma luminosidade excelente que contrasta com tanta “escuridão”.
Gostei imenso do filme e assinalo que o mesmo não fica a dever nada a outros, feitos com meios muito diferentes.
O nosso número junta-se ao valor global das grandes audiências que o filme teve.
Outros filmes haverão, assim se espera, apesar das dificuldades.
Uma sugestão: A necessidade do cinema português se debruçar sobre outros meios e vivências.  

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Noção Individual Completa

Ao longo do tempo e em face da variância da vida, e do mundo, vamos arrumando num invólucro elementos que fundamentam uma coisa. A caixa mantém-se aberta para corrigir itens de um ou vários elementos, juntar ou retirar elementos por defeito ou por excesso, mas sempre de tal modo que, não afecte o núcleo central da noção, isto é, mantendo sempre uma essência que a torne clara, no fundo a noção procura sempre corresponder tanto melhor quanto melhor à coisa. Não pomos em causa aquilo que a coisa significa para nós, porque a consideramos referência no nosso percurso. É preservado o núcleo central que serve de base à coisa.
O mundo varia. É certo. Mas, sempre variou e vai variar porque tem na sua génese a mudança e o acalentar da mesma. Neste seguimento, também, é de admitir que a sociedade varie, a história tal esclarece.
Admitimos a mudança, mas ao fazê-lo não podemos de deixar de admitir a extensão e o tempo de alongamento. Contudo, a cautela dita um novo olhar sobre o tempo, trás consigo um item, o tempo de maturação das coisas. 
-Está bem! Só que temos de andar de pressa para acompanhar o outro e o evoluir dos acontecimentos!
-Isso é certo, mas, deitamos fora os itens, os elementos e as substâncias?
Pelo andar da carruagem um banco não é banco, um hospital, não é hospital, a justiça não é justiça, um território é uma pequena faixa, a minha pátria é outra e os peixes desaparecem. Ser-se-á o quê e em que submundo por nós criado?
Entre os extremos sempre possíveis existe no intermédio o equilíbrio como precaução e que permite a ponderação. Sim, porque não podemos viver, permanentemente, só nos extremos ou relegando-os, totalmente, para segundo plano, por temor. Como, também, não nos podemos sentar indefinidamente em cima do meio repousante, à espera da cenoura ou da banana.
Uma proposta de abordagem pode passar pelo consenso sobre um jogo de antecipação esclarecida antes dos acontecimentos e fenómenos futuros, o encenar de previsibilidades, e pelo reconhecimento ou estabelecimento de fundamentos considerados por todos sempre necessários e por todos respeitados.
Mudar por dá cá aquela palha, conforme o momento e segundo o interesse imediato de alguns, sem um consenso amplo e abrangente, gere trabalhos dobrados.  
Abram-se as portas da informação e do convencimento.






Entre Uma Sociedade Aberta e Uma Fechada

A coragem que irradia da crítica frontal, informada, ponderada e aberta é própria dos homens dignos. Eles não se escondem atrás de biombos, apresentam-se de pé, tal e qual são, perante o debate sério. E, serão mais dignos, se respeitarem o trabalho constante, acompanhado da crítica, da abertura à perspectiva diversa e da auto-crítica sobre os ramais de cada uma das suas análises. Não serão só dignos, serão também dignos de respeito pela admissão do seu próprio erro ou do seu pouco saber. Aí dirão, errei, ou não sei. E caminharão para os patamares superiores da dignidade quando conseguem afastar para as calendas a referida negatividade.
Covardia é adulterar, enquadrar, calar ou apagar a palavra do outro, seja ele quem for, pobre ou rico, sapiente ou analfabeto, porque todo o homem sério, independentemente da sua etiqueta identificativa, tem direito a expressar a sua palavra, ao fazê-lo apresenta-se como pessoa, manifestando a sua vontade porque algo lhe acalentou a intenção. Isto, desde que não fira a lei, as regras de uma comunidade ou de uma instituição. Embora, à socapa, pode-se alterar, aqui ou ali,  as leis e as regras. Não há como dizer: Olhe lá, isso não é assim, é deste modo, ou você melindrou-me ou infringiu as regras. Isto tudo porque o sério também se engana e é feito da mesma massa.
O saber é algo longínquo, cujo todo está vedado a um só, abarca muitas áreas, entre elas a experiência da vida, uns terão subido mais escadas, outros menos, mas qualquer um pode trazer consigo a alavanca que facilita o movimento de subida.
Uma sociedade aberta à multiperspectividade, sem imposições deste ou daquele, onde todos deitaram pela borda fora o complexo sobre o binómio falar e ouvir, tem mais facilidade em dar de frente com a criatividade. É uma sociedade aberta à experiência de cada um, alavanca da mudança. É uma sociedade que privilegia o diálogo entre pessoas de carne e osso, onde cada conjunto se assume como membro, sem o recurso sistemático a injecções de opiniões de especialistas, estabelecendo-se como troca franca de ideias.
Uma sociedade é fechada, quando fecha a boca, abre os ouvidos e senta-se resignada perante os arautos da verdade, sabendo lá, se por trás de tanto conhecimento não se esconde os interesses e os desejos de alguns, em detrimento do interesse colectivo, contudo, salve-se daqui as boas vontades existentes. A vida não é uma aula, é algo onde se ganha e se perde. Ganha-se com todos os sentidos, abastecendo a mente. Perde-se calando, fechados dentro de redomas, de olhos fixos numa imagem intermitente, acirrando a ânsia do desabafo. Caminhar nesse sentido pode conduzir, mais tarde ou mais cedo, à diminuição do número de participantes no diálogo, até que por fim, chega a morte entre quatro paredes, na mais podre das solidões. Morre-se de tanto falar para dentro, de estômago vazio e do aniquilamento da vontade.  
Ao toque de moralidade deste desenho digo: eu errei e erro, tenho que mudar porque não faço do ressentimento palavra de ordem. 

Quantos não terão pensado em algum momento o seguinte: Porque não falei? Porque que não ripostei? Porque não berrei.

As coisas talvez tivessem outra forma.
Terão?

República Versus Monarquia

Esta questão, não tem o sentido do regime, ou até do sistema.
Esta questão tem de ser tratada ao nível da reforma das mentalidades.
Aristocracias e seus candelabros existiram sempre, sob diversas capas e, por vezes, na melhor das intenções.   
Alteradas as mentalidades precisamos de uma nova forma para o grupo dirigente e uma nova forma de participação política.
O que esteve e o que está não servem.
Pensemos...
Entretanto, vamos ficando com a república e a sua democracia imperfeita.