sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

Metafísica de Des Cartes - Momento 31


Antes de passar a
Aristóteles
O pensar formal a caminho da matematização

Reconhecidamente fastidioso, mas é necessário repisar certas ideias do Mestre.
Ele apresentou-nos a sua concepção de mundo. Uma visão é esta:

Um ser pode ser apenas uma possibilidade ou pode ser uma actualidade.
Todo o composto de forma e de essência, de essência com os seus atributos e seus acidentes ocasionais, é um ser natural ou um ser por natureza.
Forma
O que a matéria faz, sem ela não há ser, princípio de organização e princípio de movimento. Se a forma desaparecer permanece a substância.
Matéria
Debaixo da forma e inseparável desta, tem aquilo de que a coisa é feita, com a capacidade para assumir uma forma (potencial). Matéria e sua forma podem assumir algumas formas adicionais.
As coisas têm um potencial que lhes permite assumir uma forma.
Substância
Determinação fundamental e principal que permite discernir nas coisas o que elas essencialmente são. Fusão da matéria com a forma. Permanece depois da morte da coisa.
Para entender a fusão entre a forma e a matéria, ie, como as coisas vêm a ser, distinguimos:
Potência
Capacidade de chegar a ser algo que ainda não é de facto, mas pode vir a ser.
Acto
Concede a realidade à coisa. É cumprimento, realização, perfeição, actualização e desenvolvimento das potencialidades do que estava em potência (ou de uma substância). Algo que já está, foi realizado, efectivamente é, existe, manifesta-se actualmente
Acidente
Pode dar-se um acontecimento, não permanente e ocasional, que impeça que a forma se transforme no que ela é em potência, os, que a matéria se veja impedida de dar azo à sua capacidade potencial, - acidente.
A substância manifesta-se através dos acidentes. O acidente, não necessariamente, refere-se e integra a substância.
Atributo pertencente ao ser, circunstancial, não essencial, nem necessário para a sua definição, ie, não o descaracteriza com a sua falta. É uma determinação secundária e cambiante do ser, que só através doutro se revela. Leva a “ser inerente” ou ao “não ao ser”.
Representa os vários sentidos que se podem dizer daquilo que é: qualidade, quantidade, lugar, tempo, acção, relação.

A natureza é em todas as coisas dotadas de um princípio de movimento.
Viu-se também que O Mestre estabelece outra subdivisão do mundo. O mundo sensível e o inteligível.

Só o pensamento separa nas coisas a sua forma e a sua essência. 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Metafísica de Des Cartes - Momento 30

A filosofia é o mundo da liberdade. Neste mundo somos livres de descobrir, sem imposições.
Podemos nos dedicar a um só pensamento, ou a uma sequência deles, pelo tempo que lhes quisermos dar.
Que caminhos temos ao dispor?
Temos o nosso próprio caminho, o dialéctico, aquele sem lógica, o formal e o proposicional.  
Escolhido o caminho, não será um caminho onde só brilha a liberdade. Não, tem uma grilheta que se chama responsabilidade.
Não basta afirmar "não", nem afirmar "sim", ou até opinar, a responsabilidade impõe a justificação.

Mas, como somos livres para descobrir, descobrindo, estaremos em melhores condições para justificar aquilo que expressamos, que por sua vez tem correspondência no nosso pensamento.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Metafísica de Des Cartes - Momento 29

Pausa para o café

Muitas das ideias expostas nestes sucessivos momentos devem-se em grande parte à amabilidade e boa intenção de muitos professores de filosofia - internautas, filósofos e um ou outro livro.
Todos o desenhos são da autoria do autor deste blogue. 
Delas e de muitas outras percebemos o porquê de Aristóteles ter sido o primeiro filósofo da Igreja. Percebe-se aqueles que o seguiram e aqueles que quiseram ir mais longe, caso do grande Des Cartes.
Aristóteles para além de entusiasmar, é provocador, incita-nos a agarrar a corda de que gostámos e a ir mais longe.
Mas, as coisas evoluíram. Hoje, o nosso mundo já não acaba na lua. Contudo, não deixa de ser verdade que, o ser humano circunscrito ao mundo terrestre é um ser vivo segundo um princípio primordial e organizador da sua vida. Só que, hoje, não evidenciamos só o princípio segundo a razão, mas também o princípio segundo a emoção.
Aquela provocação incita-nos a não esmorecer, incita-nos a dar potência ao impulso guiado pela razão, não só para conhecer o que é e não é até à lua, mas a ir mais longe. Este propósito exigirá um grande controlo emocional, muita união e muita vontade. Não força de vontade, porque vontade já é um impulso, melhor será dizer: muita capacidade intelectiva e emocional.

Procurando o bem dizer, penso que aqueles que amam a corda não são fiéis a um por toda a vida, são amantes desse e de muitos mais. No entanto, não deixa de ser preciso: estaleca, amor e tempo. 
Mesmo assim, Aristóteles será sempre recordado.

Aristóteles ao procurar os primeiros princípios do ser e ao estabelecer a sua proposta Lógica é matemático. Dá-nos o seu entendimento, enquanto base,  de como podemos intelectualizar o que está para além do sentido e de como nos podemos aperceber das leis do universo.      

Não queria partir para outra sem relevar a interpretação feita por um professor de filosofia sobre um pensamento de Aristóteles. Transcrevo de novo:
"O homem dirige-se aos objectos exteriores (materiais) e faz uso da faculdade específica dos animais superiores, a percepção sensorial, que lhe permite receber as formas desses objectos, independentemente daquilo que os compõem, ou seja, o sentido recebe as qualidades materiais sem a matéria delas. Para tal, é necessária a ocorrência de um acto físico, ie, a acção do objecto sensível sobre o órgão que sente, na proximidade ou à distância, através do movimento de um meio e de alguma mudança qualitativa.
O acto físico transforma-se num acto psíquico, ie, transforma-se na sensação propriamente dita, conhecimento sensível, em virtude da específica faculdade e actividade sensitivas da alma".

Metafísica de Des Cartes - Momento 28

O Homem - Ser Intrinsecamente Racional
IV)

...
O Objecto do intelecto é o universal, o necessário, o imutável, o imaterial, as essências, as formas das coisas e os princípios primeiros do ser, o ser absoluto.
A falsidade ou a possibilidade de falsidade, começa com a síntese, o juízo.
A Razão é a fonte dos primeiros princípios do conhecimento.
O pensamento é livre e universal.
Realmente, o aspecto sensível (matéria do conhecimento) e o aspecto racional (organização) não são separáveis, são distintos. A sequência não é: sinto uma coisa e, só quando acabo de sentir essa coisa, sinto a outra. A distinção entre o experimental e o racional é uma distinção mental, não é uma separação.
Para ele acima do conhecimento sensível está o conhecimento inteligível, especificamente diverso do primeiro. Aceita a distinção platónica entre sensação e pensamento, rejeita o inatismo platónico e contrapõe o intelecto como tábua rasa, sem ideias inatas.
Ao possuir as faculdades de pensar e conhecer, conhecer até o imaterial, a alma assuma a condição de espírito, mas não um espírito puro, é um espírito que anima um corpo animal, que deve ser imperecível (*).
Pelo facto de ser um espírito que anima um corpo animal as faculdades fundamentais do espírito humano são duas:
Teorética (actividade cognoscitiva e intelectiva) e analogamente a esta temos a prática (actividade operativa e activa), como o apetite e a vontade.
A actividade fundamental da alma humana é a teorética, da qual depende a prática. Cada uma destas duas pode ser sensitiva (grau sensível) ou intelectiva (grau inteligível).
Descreve a atribuição do motivo para a alma dos seres humanos como vindo de fora, e quase o identifica com Deus, pensador eterno e omnipresente. A razão percebe algo da característica essencial do pensamento absoluto.

(*)Há uma inconstância na doutrina dos poderes intelectuais da alma:
-Parece dividir o intelecto em duas faculdades: perecível e imperecível.  
-Como a alma é a forma do corpo, o intelecto concebido dessa forma deveria morrer com o corpo.
-Como o intelecto é capaz de apreender verdades necessárias e eternas, deverá em si mesmo e por afinidade, ser uma coisa independente e indestrutível.
-A capacidade para pensar é algo de divino e exterior ao corpo.

-O pensamento é o que é em virtude de poder tornar-se todas as coisas. Por outro lado, existe algo que é o que é em virtude de poder fazer todas as coisas.

Metafísica de Des Cartes - Momento 27

O Homem - Ser Intrinsecamente Racional
III)

...
retém só a forma que é universal, pertencente a todos os indivíduos indistintos, realizando assim uma abstracção total. A teoria da abstracção explica não só o conhecimento sensível que depois dá o conhecimento inteligível, como também explica a estrutura do conhecimento intelectivo.    
Em seguida usa os dados recebidos como material para análise e reflexão (pensamento).
O resultado final pode ser organizado de uma forma nova, de modo que seja percebida a mistura do universal com o particular (imaginação). A alma humana entendida como imaginativa multi-passo dá origem a conhecimentos teóricos e práticos com outros desenvolvimentos (conhecimento).
A razão lida com os aspectos abstractos e com os. Pelo facto da razão em si mesma ser a fonte de ideias gerais é tão só potencialmente. A razão chega aos fenómenos apenas por um processo de desenvolvimento gradativo em que vai rompendo o sentido do pensamento, unificando e interpretando o senso das apresentações. É possível o pensamento imaterial vir a receber coisas materiais através de alguma comunidade entre o pensamento e as coisas.
Distingue dois tipos de razão:
Uma recebe, combina e compara os objectos do pensamento, -razão passiva.
Outra faz os objectos do pensamento e permite ao mundo inteligível conferir ao material do conhecimento as ideias e as categorias que os torna acessíveis ao pensamento, -razão activa.
Daí, ser a razão o apoio constante do mundo inteligível.
A alma humana para além de exercer a função nutritiva (vida) e a função sensitiva (percepção e sensibilidade), apresenta outra característica distintiva. O homem ao pensar sobre as coisas procura compreendê-las e anseia por conhecer novas coisas, valoriza o exercício da actividade intelectiva, de onde se destaca a actividade racional, o homem valoriza a sua função racional. Esta função é própria só do ser humano, só ele é capaz de pensar, compreender e conhecer, fazendo uso da razão, ie, exerce a actividade racional, sendo caracterizado pela sua racionalidade. O pensamento intelectual é específico dos seres humanos. O homem é um ser intrinsecamente racional, ie, a sua característica distintiva é a alma racional (razão).
Mas, atenção, a alma humana cumpre as funções referidas de acordo com o princípio aristotélico: o princípio superior cumpre as funções do princípio inferior. 
O objecto do sentido é o particular, o concreto, o contingente, o mutável, o material (aspecto material dos fenómenos).

A sensação embora limitada é objectiva, restrita, individual, sempre verdadeira com respeito ao próprio objecto.
...

Metafísica de Des Cartes - Momento 26

O Homem - Ser Intrinsecamente Racional 
II)

O homem dirige-se aos objectos exteriores (materiais) e faz uso da faculdade específica dos animais superiores, a percepção sensorial, que lhe permite receber as formas desses objectos, independentemente daquilo que os compõem, ou seja, o sentido recebe as qualidades materiais sem a matéria delas. Para tal, é necessária a ocorrência de um acto físico, ie, a acção do objecto sensível sobre o órgão que sente, na proximidade ou à distância, através do movimento de um meio e de alguma mudança qualitativa.
O acto físico transforma-se num acto psíquico, ie, transforma-se na sensação propriamente dita, conhecimento sensível, em virtude da específica faculdade e actividade sensitivas da alma. A sensação não é só um afecto passivo e receptivo, é no fundo um movimento da alma por meio do corpo. 
Portanto, a sensação é resultado do encontro entre uma faculdade sensorial (visão) e um objecto sensorial (objecto visível).
O ver e o ser visto são uma e a mesma coisa.
Uma faculdade sensorial em acto é idêntica a um objecto sensorial em acto.
O sensível próprio é percebido por um só sentido, ie, as sensações específicas são percebidas respectivamente pelos vários sentidos.
O sensível comum, é percebido por mais que um sentido, caso das qualidades gerais das coisas: tamanho, figura, repouso, movimento, etc.
O senso comum é uma faculdade interna cuja função é coordenar, unificar as várias sensações isoladas que a a ele confluem, e, por isso se tornam representações, percepções.
Uma coisa que distingue o homem dos outros seres vivos deve-se ao facto de ser dotado de intelecto, uma parte da sua alma. Intelecto que não se restringe a uma relação específica com o corpo, ele é tal que a sua actividade vai para além dele, chegando ao ponto de apreender as essências das coisas independentemente da condição orgânica.
A alma humana tem o poder para perceber a sensação causada (percepção), apurar se lhe causa dor ou prazer (sensibilidade) e para a processar de modo a que seja inteligível (inteligência).
Temos sensações visuais e auditivas distintas, princípio de distinção inerente à própria forma do corpo. Sentir uma coisa é já distingui-la de outras.
O organismo humano é um organismo organizado, recebe as sensações ordenadas segundo um princípio primordial e organizador da vida, a alma (como se verá à frente, segundo um princípio da razão, segundo a alma racional). O corpo humano não é obstáculo, é um instrumento da alma humana.
Outra operação intelectiva importante é a abstracção, em que a inteligência negligencia os aspectos singulares, 
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