segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 21

A Cosmologia Aristotélica

Não explicará como é o Universo, mas adianta ideias. Não nos dá, aos olhos de hoje, uma explicação cabal e com mais certezas. Dá-nos uma ideia do seu universo com os instrumentos que possuía, nomeadamente, a sua observação, o conhecimento que lhe foi possível adquirir e com a sua crítica.
O universo é eterno, não tem princípio, nem fim. Mas, é finito termina no limite traçado pelos pontos mais longínquos das órbitas das estrelas.  
A natureza é em todas as coisas dotadas de um princípio de movimento, só o pensamento separa nas coisas a sua forma e a sua essência. Todo o composto de forma e de essência é um ser natural ou um ser por natureza.    
Divide o universo em duas grandes regiões: Mundo Sub-Lunar e Mundo Supra-lunar (Meta-lunar):

Mundo Sub-Lunar
Região que compreende tudo abaixo da Lua, excluindo esta, onde se inclui a parte terrestre.
A terra é o centro da região Sub-Lunar, e como tal do universo, nessa região a Terra permanece imóvel.
Na região terrestre predominam as substâncias primordiais ar, água, terra e fogo com naturezas diferentes, que se misturam, da mistura resulta que tudo sofre mutação e é corrompido. Esta mudança traduz-se em desequilíbrio e imperfeição, o que leva a dizer que o nosso mundo não é perfeito.   
Todos os corpos são compostos dos quatro elementos.

Os movimentos dos corpos celestes são rectilíneos, ascendentes segundo o ar e o fogo, e descendentes segundo a terra e a água. Os movimentos não rectilíneos dos corpos são violentos ou forçados por algo que lhes é exterior, de onde resulta uma violação da ordem natural. Todos os movimentos se realizam com um fim em vista que é a manutenção da ordem do conjunto. Alterando-se a ordem, a natureza com os seus mecanismos próprios restabelece a ordem necessária e justa

Mundo Supra-Lunar
Compreende o que está para além da Lua, inclusive esta, concretamente, os planetas: Mercúrio, Vénus, Marte, Júpiter e Saturno, e ainda o sol e as outras estrelas.
Nesta região os corpos celestes não se compõem das quatro substâncias primordiais já referidas, mas da quinta-substância essência, -o éter, forma este mundo, dotado de um movimento circular e uniforme, incorruptível, eterno, material leve, transparente, que sempre corre e que confere ao céu e á região e aos corpos celestes que nestes vagueiam homogeneidade, harmonia, regularidade, perfeição e ordem.

Como se verifica os corpos celestes não vagueiam pelo espaço vazio, considerado por ele inexistente.

Os astros planetas e estrelas são esferas perfeitas, compostos de éter, giram à volta da terra eternamente, com uma velocidade uniforme, segundo órbitas circulares perfeitas. O movimento destes deve-se às esferas de éter que os circundam, em que o movimento destas é impulsionado por motores imóveis.  

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 20

É de realçar outros aspectos, nomeadamente, a noção de corpo, antes de seguir em frente.
Cada coisa possui uma natureza que a distingue das outras.
Natureza, - o que diferencia uma classe de coisas do resto.
As diferenças que se podem estabelecer nas coisas podem ser:
Acidentais, - se forem menores e superficiais.
Essenciais, - se as diferenças forem maiores e mais importantes.
Considerando os objectos físicos, sendo certo que existem muitos mais, dividiu os seus constituintes em dois grupos:
Corpos, - sempre mutáveis, e
Atributos (características), - sempre imutáveis.
Os principais atributos pelos quais os corpos se transformam são:
Quantidade – os corpos aumentam ou diminuem de tamanho ou peso,
Qualidade – os corpos alteram as suas propriedades,
Posição ou lugar – os corpos movem-se de um sítio para outro.
Os principais atributos de um corpo físico são aqueles que permanecem ao logo da sua existência, são os que fazem dele aquilo que ele é.
A mudança substancial é mais importante que a quantidade, qualidade e lugar. Representa o devir e o perecer.  

A uma conclusão se chega:
Os primeiros princípios e as quatro causas são as condições básicas para que as coisas existam e possam ser conhecidas.

A Filosofia Primeira tem
Uma finalidade básica - desvendar e definir realmente a constituição essencial dos seres.
E, tem o seu objecto – compreender o universal de modo a estabelecer definições essenciais.  

E aqui é de perguntar: até que ponto a Ciência Actual se distancia desta finalidade e deste objecto?
Hoje, não temos o olhar e o pensar de Aristóteles. Temos muitos a olhar e a pensar. E, acima de tudo, desenvolvemos outros instrumentos físicos e imateriais que nos permite encetar o caminho de desvendar e definir realmente a constituição essencial dos seres e a compreender o universal de modo a estabelecer conceitos fundacionais.
Já se passaram alguns anos, desde os tempos em que brincava com as minhas galenas!

Contudo, para fazer uma boa sopa, não basta atirar com as batatas e as couves para dentro da panela!

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 19

Pegando no texto abaixo:
“A medição ou contagem das transformações das coisas dependem para existirem da contagem na mente. Não havendo mente para contar, não pode haver tempo”.
E segundo experiência própria:
Antes de irmos para a cama, pela observação e pelo conhecimento adquirido, temos a noção do tempo, há bocado era tarde, depois ficou noite. Adormecemos, como que as persianas da consciência se vão fechando até se encerrarem. Neste percurso não há sonhos, não há pesadelos, apagaram-se as noções. Acordamos, já é dia. No intervalo que vai do último instante em que estivemos acordados e o novo instante, a partir do qual voltamos a acordar, não há tempo. Voltamos a ter noção do tempo, depois daquele instante em que a consciência encontrou uma referência para a sua medida.
Quando entrei em coma passou-se o mesmo.
No primeiro caso é algo que exige treino, no segundo caso acontece sem intenção própria.

A filosofia é grande, não podemos fugir do caminho que traçamos, pois cada rua que nos é dada permite-nos gerar vielas. 


Antes de continuar através da Cosmologia de Aristóteles friso o seguinte:
Vivo neste tempo, não rejeito totalmente os sítios por onde andei. Porquê? Porque todos eles me deram a base para aquilo sou.

Pois “Aristóteles” e “outros do mesmo domínio” devem ser respeitados, não por fazerem parte da arqueologia do pensamento (poetas mortos), mas antes pelo facto de cada um deles constituir uma base para uma civilização, os, um ponto de partida para algo novo. A partir da penetração do que pensaram e da crítica que posteriormente foi tecida, deram origem a transformações substanciais. Mal ou bem, ao tratar dos assuntos que aqui me trazem, procuro viver como se estivesse junto de Aristóteles e de outros. Findo cada momento, volto à minha vida normal. Algo de bom há-de ficar.   

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 18

Até aqui apercebemos que:
Uma coisa é feita de matéria. Cada matéria tem a sua natureza própria, é dotada de um potencial, existe algo que a faz surgir e deslocar-se, de forma natural ou artificial, podendo ter perdas e ganhos nas suas propriedades, até no sentido quantitativo, e todas têm um propósito neste mundo.
Deu-nos uma noção de movimento, tal que:
-Acto e potência relacionam-se com o movimento;
-Um ser em potência só pode tornar-se um ser em acto através de algum movimento.
-Movimento (transformação, mudança, transitoriedade):
Passagem da matéria à forma; do acto à potência e da potência ao acto; enquanto transformações que ocorrem na coisa em si mesma, na situação de carência passagem da privação à posse e quando do excedente é a passagem da posse à privação.
E agora dá-nos a distinção entre os movimentos.
Distingue quatro tipos ou espécies de movimento, sendo certo que eles surgem por via natural ou artificial:
Lugar
As coisas mudam de lugar, locomovem-se, em que o objecto que se locomove permanece o mesmo, e a posição espacial é o elemento mutante.
Qualidade
As coisas alteram ou mudam as suas propriedades ou características.
Quantidade
As coisas mudam as quantidades dos seus elementos constituintes, aumentando-as ou diminuindo-as, há acréscimos ou diminuições de quantidades.
Substância
A substância das coisas é afectada, principalmente no seu início e no seu fim.
Uma mudança substancial distingue-se claramente das outras qualidades: quantidade, qualidade e lugar.

Resumidamente outras noções aristotélicas sobre as quais Des Cartes se vai debruçar: 
. Considera que o espaço vazio é uma impossibilidade.
Algo que Des Cartes não rejeita. Sumariamente através da noção de lugar: eu objecto, através de um movimento, passo de um ponto A para um B separado do primeiro, algo vai ocupar o A quando o abandono. Portanto, o universo é um plenum de coisas.

Não concorda com a visão de que os elementos são compostos de figuras geométricas. Algo que Des Cartes não despreza e preenche o conteúdo.

O espaço,
- O limite do corpo em torno do que o rodeia. Des Cartes expande esta ideia.

Tempo
- Medida do movimento em relação ao que é anterior e posterior.

Se não houvesse mudança no universo não haveria tempo, já que a medição ou contagem do movimento dependem para existirem da contagem na mente. Não havendo mente para contar, não pode haver tempo. O espaço e o tempo são potencialmente divisíveis ad infinitum. Algo a tratar mais à frente.  

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 17

B - Natureza do ser visto extrinsecamente

B1 - Causa ligada à existência do ser, resposta à questão “quem a fez”?
Causa Eficiente ou Motora:
-A partir da qual as coisas são criadas
-Meio pelo qual o objecto é criado
-O que dá origem ao processo em que a coisa surge.
-Agente produziu directamente a coisa.
-O que fez?
-O que faz com que a matéria adquira uma determinada forma. Portanto,
Explica como a matéria recebeu determinada forma,
-Princípio primeiro do movimento ou mudança
Ex: escultor

B2 - Causa ligada à intenção do ser, responde à questão “para quê está a ser feita?”
 Causa Final:
-Objectivo, propósito, intenção, finalidade;
-Aquilo para o qual a coisa é feita;
-Fim ou finalidade com que determinada coisa foi feita;
-Fim para a qual é criada;
-Determina a finalidade das coisas existirem e serem como são;
-Caracteriza o objectivo ou o propósito da coisa;
-O que a enformou;
-Razão de ser de uma coisa,
-Para onde tende o devir do homem
Ex: ideia da escultura.

A causa formal está directamente ligada à causa final, visto que a finalidade da coisa determina o que os seres efectivamente são. Estas duas causas são as que mais verdadeiramente dão a explicação de um objecto.
A causa final é interna à natureza do objecto em si, e não algo que nós subjectivamente impomos a ele. É por ela que as coisas mudam, determinando a passagem da potência ao acto.
As coisas mudam com aspiração à perfeição.


Convém olhar bem para as causas nomeadamente a eficiente e a final. Des Cartes vai-se debruçar sobre elas. Claro que também vai por em causa a lógica aristotélica. 
Anteriormente, falou-se que para todo o efeito existe uma causa. Algo que a ciência actual não abandonou, nem nós no nosso dia a dia. Contudo, Nietzsche vem assumir elevada crítica sobre tal, apresentando-nos a sua proposta para conhecer as coisas. 

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 16

Disse que ele exigiu a si mesmo a elaboração das regras que correspondem às mudanças ou movimentos. Mais propriamente, ele elaborou as causas principais que levam as coisas a serem como são em si mesmas, como também são na relação com as outras coisas.
Distingue 4 causas principais, diferentes e complementares:
Considerando: Uma escultura

A – As causas relativas à constituição das coisas. A natureza do ser visto intrinsecamente (em si mesmo)

A1 - Causa Ligada à potencialidade do ser, resposta à questão “de que é feita a coisa?”
Causa Material:
-Elementos a partir dos quais um objecto é criado,
-Matéria da qual é feita a essência das coisas.
Ex: Madeira
Uma determinada quantidade matéria recebe uma forma.
Podemos ter a mesma forma e diferentes tipos de matéria.
A mesma matéria pode-se encontrar em diferentes formas.

   A2 - Causa ligada à especificidade do ser, resposta à questão “o que está a ser feito?”
Causa Formal:
-a coisa em si,
-forma ou essência das coisas,
-natureza específica,
-essência inteligível determinante da coisa.
-as relações formais determinadas pelas diferentes figuras geométricas,
-expressão do que é
-configuração própria de uma coisa,
-modelo que serve para dar forma à coisa.
-O que enforma ou informa um ente e faz com que ele seja o que é.

Ex: projecto, modelo, ideia da escultura concluída

Metafísica de Aristóteles - MD - Momento 15

Antes de continuar quero desenvolver uma ideia segundo a minha maneira de ver as coisas.
“Ler mais”, necessariamente, significa vir a “ler melhor”. Também será verdade que “ler pouco” pode conceder pontos à intuição, o que não deixa de ser aprazível.
“Ler muito” é importante se os sucessivos actos contribuírem para o desenvolvimento das operações mentais.
“ler muito” é para quem pode.
“Ler muito” com açúcar é só para alguns.
Depois destas pinceladas e tendo em conta o assunto que anda por aqui convém estabelecer o que é “filosofar sobre tal”.
Não é com certeza mergulhar para um tanque e desenrascar umas braçadas. É antes mergulhar na Piscina de Espinho, aproveitando a sua amplitude, desenvolver braçadas e pernadas, com suavidade e com uma respiração eficaz e tranquila. Para complicar, talvez seja melhor, aproveitar aqueles dias de forte nortada, a qual levanta alguma ondulação e faz baixar a temperatura da água do mar, sempre límpida, que ocupa o lugar entre paredes e chão. Podemos ir para lá, segundo uma profundidade mínima, mas sabemos que ao vir para cá abre-se a possibilidade de uma profundidade bem mais funda. Deslocar-nos num meio diferente do habitual, onde profundidade é substancial não é para qualquer um. Caso seja intenção bater com a mão no fundo da piscina, situado nos sete metros, e voltar para cima nas calmas, tal exige preparação. Nadar nestas condições poderá ser amargo para alguns, mas para outros é uma experiência inolvidável.     

Nadar é uma acção que nos traz melhorias físicas consideráveis, limpa o esterco que nos invade e para o qual contribuímos. No entanto, ao nadar sobressaem momentos de profunda reflexão, muitas vezes sem se dar conta do seu início e até do seu fim.