terça-feira, 27 de abril de 2010

Aparência e Realidade, Bertrand Russell, Tradução de Desidério Murcho

De site Crítica, 18 De Setembro de 2004 • Epistemologia
Aparência e realidade
Bertrand Russell
Tradução de Desidério Murcho
5 páginas.

Este texto começa com uma pergunta.
Haverá algum conhecimento no mundo que seja tão certo que nenhum homem razoável possa dele duvidar?
A pergunta faz sobressair os seguintes termos:
Conhecimento, tomo-o como a faculdade de ter noção de, fazer ideias de.
Certo, subjaz a ideia do verdadeiro, o que é determinado.
Duvidar, leva-me para o estar convencido ou ter certezas de.
Uma reformulação possível da pergunta:
Haverá alguma ideia que seja tão verdadeira que dela não possamos duvidar?
Ou, ainda:
Uma coisa considerada existe?
Ou: Algo existe?
No nosso dia a dia aproximamo-nos das coisas, e muitas das vezes, criamos crenças ou preconceitos à acerca delas, não as valoramos, nem aprofundamos as relações de proximidade. Não atribuímos tempo ao deixar vir as coisas e fugimos da sua dissecação, no sentido de saber o que elas são, enquanto são. Não questionamos o nosso sentir?
Dessa experiência resulta conhecimento de cariz prático que utilizamos por necessidade. Esse conhecimento também pode ser o início da procura da certeza. Do senso comum partimos para o fundo do poço, ou para o cima do monte.
O texto tem subjacente um sistema constituído pelo “Eu”, a “relação directa” e a “coisa”. Onde não podemos descurar a subjectividade inerente ao “Eu”, as condições de proximidade da relação, os factores da coisa e o conjunto no seu todo. Se queremos procurar as coisas que são, enquanto são, isto é, aprofundar a natureza das coisas, isso leva-nos a um grande mergulho naquele conjunto, com calma e sem desesperos, tirando daí os frutos que se desejam.
Concentro-me na coisa próxima, dirijo-lhe os meus sentidos, segundo esta ou aquela direcção, atinjo-lhe a forma, e até penetro na sua substância. Eu sou receptor de impressões, sinto-as.
“Sensação, experiência de estar imediatamente ciente das coisas”.
Estabeleço uma ideia e creio nela. Mas, constato que ao ir mais fundo há sempre um item que falta. Duvido, já não é um querer com toda a certeza, mas antes o “parece-me” que ela é isto ou aquilo.
É hábito ajuizar sobre a materialidade das coisas, com base no que elas parecem ser, e não com base no que elas são. Pensamos que sentimos efectivamente as suas formas materiais, só que concebemos as suas formas aparentes a partir do que inferimos dos sentidos.
“Dados dos sentidos, coisas imediatamente conhecidas pela sensação”.
As coisas alteram-se constantemente ao longo do espaço-tempo, nomeadamente, quanto à forma e substância. Os sentidos não parecem dar-nos a verdade sobre a coisa em si, mas sobre a aparência dela.
A coisa, objecto físico no alcance do meu sentir, não é imediatamente conhecida por mim, é uma inferência do que é imediatamente conhecido.
“Não podemos descurar a relação entre os dados dos sentidos e os objectos. Para sabermos seja o que for dos objectos físicos tem de ser por meio dos sentidos, mas o objecto não é os dados dos sentidos, nem os dados dos sentidos são propriedades do objecto”.

Assim, termino por agora, espero voltar cá.

António Martins, no Porto, em 01.05.2010

domingo, 18 de abril de 2010

Que é uma Coisa? Martin Heidegger, Edições 70, 237 páginas.

Quando li a primeira vez este livro veio-me à ideia um grande professor de probabilidade. Falo do Sr. Eng. Trigo e dos seus cálculos de probabilidade, no sentido de acertar num número pretendido, constante da roleta russa existente no casino de Espinho. Com os seus elevados conhecimentos matemáticos, aliados à sua experiência terra a terra, tirava o sono a todos, dentro de um anfiteatro cheio. Era o delírio mental.
Apesar da leitura global do livro, o pouco que disser visa o explanado até à página 59.
A similitude invocada vem do facto desta proposta surgir na sequência de um conjunto de aulas ministradas pelo Professor Heidegger e, em certa medida, pela dialéctica que nos transmitiu decorrente da pergunta mencionada em assunto.
Abordar esta questão, tão profundo quanto possível, é como cair dentro de poço, e sentir-se em apuros para vislumbrar o fundo. Venho com outra ideia, é como andar às voltas dentro de um armazém, carente de arrumação, e ter grande dificuldade em arrumar as peças nos lugares mais apropriados. Faço do armazém uma macieira, giro em torno dela, umas vezes arranco maçãs saborosas, outras vezes saem maçãs com bicho.
Outra ideia feita que trago é definir “coisa” como “o que existe, fora de mim e no meu pensamento”. E tenho como “mundo - tudo o que existe”. O que é pouco, sendo sempre um ponto de partida para uma qualquer evolução.
A linguagem tem um papel importantíssimo para o encontro da resposta, pela utilização do termo certo, pelo desenvolvimento de argumentos e pela expressão de raciocínios que conduzam ao encontro da resposta.
Da experiência do quotidiano assumimos coisa como algo que está à mão, disponível, à vista, ou à beira. É algo que afecta os nossos sentidos, podemos instrumentalizar, e destacar propriedades.
Ampliando aquele sentido de proximidade, e como consequência da experiência, coisa surge como algo que ocorre, de um modo ou de outro, acontecimento; ou interiorizando a proximidade, temos coisa como pensamento.
Indo mais longe, sem recurso à experiência, coisa surge como qualquer coisa, algo e não nada.
O professor fala do papel da ciência na determinação das coisas, ao procurar saber o que são as coisas e como se diferenciam. Mas, salienta a necessidade “de saber o que é a coisa enquanto coisa, isto é, procura-se aquilo que faz a coisa ser coisa, enquanto coisa, a coisalidade, algo incondicionado que determina a coisa, e que temos de procurar, indo além de todas as coisas, em direcção ao que já não é coisa. Isto, implica um querer saber mais que as ciências, ou melhor de um modo diferente”.
O meu corpo, a minha mente, a relação entre as duas, o eu, a relação com o outro conduzem ao sujeito que representa e acredita. “O que representamos e acreditamos são imagens subjectivas que carregamos; às próprias coisas nunca chegamos”.
Estes e outros argumentos vão ficar a roer cá dentro, cá voltarei.

António Martins, no Porto, 25.04.2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

O Banquete de Platão, Site/livros grátis, 35 páginas

A minha intenção é centrar-me única e exclusivamente neste livro, sem mais influências, isto é, sou eu e este livro.
Glauco, cheio de curiosidade, aproxima-se de Apolodoro. Pretende inteirar-se de um banquete que ocorreu, para o qual foi convidado Sócrates, entre outros. E gostava de saber o que lá se tinha tratado.
Apolodoro prestou-se a informá-lo, sendo ele o contador do diálogo relatado no livro.
Num fim de uma tarde iniciou-se um jantar que ocorreu em casa de Agatão. Para além deste, os seus convidados eram: Fedro, Aristófanes, Pausânias, Erixímaco, Aristódeno, Agatão, Sócrates e Alcibíades. Estes eram servidos por meninos e as mulheres remeteram-se à cozinha.
O tema escolhido para o diálogo era o Amor, ele próprio, sua natureza e suas obras. Estabeleceram uma sequência de exposições, onde cada um expunha o que era do seu entendimento.
Estes homens tanto podiam nutrir amor por meninos já crescidos, como por homens adultos, ou por mulheres. Os fundamentos e virtudes do amor são procurados por eles, tomando por base a relação entre homens.
Entre as várias ideias que ficaram, uma delas é que o amor não existe sem um par mínimo: “aquele(a) que ama” e o(a) “amado(a)”. O amor é a cola que une o sujeito e o objecto desta relação comunicacional. Ele está para além do “pessoa” a “pessoa”, do “pessoa”, “coisa”; como também pode estar no par “pessoa” e “transcendência”.
Da exposição do quarto na sequência do debate, Agatão, lembrei-me de umas palavras:
“O amor trás felicidade, é em si mesmo belo e o melhor, depois é para os outros a causa de tantos bens.
Com o amor não há prisões, nem mutilações.
É delicado e reside nos delicados.
Tem constituição húmida porque se amolda com jeito.
Reside no que floresce, no que está florido e perfumado.
Não comete, nem sofre injustiças.
Não cede à força, nem à violência.
Reside no homem de bom grado, temperante e justo.
Domina prazeres e vícios.
Não se opõe à coragem, mas domina o corajoso.
É necessário à sabedoria e à criação.
Desde que se ama as belas coisas toda a espécie de bem surgiu.
Tira o sentimento de estranheza e enche-nos de familiaridade.
Incute brandura e excluía rudeza.
É pródigo do bem-querer e incapaz do malquerer.
É propício e bom.
É contemplado pelos sábios, invejado pelos desafortunados e conquistado pelos afortunados.
É diligente com o que é bom e negligente com o que é mau.
É piloto e combatente.
Ele encanta o pensamento”.
Por agora é tudo, sem grandes críticas e análises, outros desenvolvimentos estão noutra oportunidade que exista. A vontade anda à solta.



António Martins, no Porto, em 18.04.2010.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

"As Confissões de Santo Agostinho" Livraria Apostulado da Imprensa, 446 págs.

Comecei com este como podia avançar com outro.
Todos eles são para mim motivo de grande satisfação.
Neste livro Santo Agostinho torna públicas muitas das suas confissões a Deus.
Confissões por erros verificados ao longo da sua vida.
Depois de uma infância normal, prossegue os seus estudos secundários e superiores em Cartago, onde vem a ser professor de filosofia.
Perde o pai cedo. A sua mãe, crente fervorosa, acalenta o sonho de o tornar fiel amigo de Deus.
Agostinho foi um homem culto e sábio.
Eu não posso deixar passar, uma das coisas que mais me impressionou nele, foi a sua imensa humildade e bondade.
Já no estado adulto entrou nuns caminhos pouco recomendáveis, porque foram levados ao extremo e à doença. Vem a ter um filho. É a sua mãe que muito o ajuda nessa canseira. Até aos 27 anos gozou bem a vida.
Sozinho fez crescer na sua interioridade a ideia de Deus.
Ideia que vem abraçar totalmente, já em Roma, com mais dois amigos, em regime de total entrega e celibato.
Ao longo de todas as suas confissões ele mostra o seu grande amor a Deus, através das suas palavras de completa adoração.
E chego ao ponto onde queria chegar, para já.
O seu conceito de Deus que se aprofunda além das palavras de adoração. E que subscrevo, na qualidade de crente.
E o seu desenvolvimento sobre a questão do tempo, algo que considero maravilhoso.
Por agora é só isto. Mais tarde volto à obra e a este lugar.



António Martins, no Porto, 12.04.2010