Sobre esta questão resumo pela importância, aquilo que achei por bem, sob a forma de apontamento.
A questão da arte:
Não possui imperfeição ou falha.
É incorruptível e pura.
Governa e domina aquele (a) a quem pertence.
Procura ou prescreve o que é mais vantajoso ao mais fraco, e ao que é governado por ela.
Não proporciona qualquer vantagem. O proveito advém da arte dos lucros que a acompanha a arte.
Do governante:
Um chefe não zela pela sua conveniência. Não examina ou prescreve o que lhe é vantajoso, mas o que é vantajoso aos seus subordinados ou súbditos, para os quais exerce a sua profissão.
Quem pretende exercer bem a sua arte jamais faz ou prescreve, no exercício da sua especialidade, o que é melhor para si mesmo, mas para o seu cliente.
Apelida-se de governante aquele que dá mais importância à sua arte e comando, do que à sua acção.
É uma vergonha ir voluntariamente para o poder, sem aguardar por tal necessidade.
Os homens de bem não governam por causa de proveitos porque não querem ser apelidados de mercenários, por exigirem de imediato salário, nem ladrões, por se terem aproveitado da sua posição.
Os bons vão para o poder, não como quem vai para tomar conta de um benefício e tirar gozo dele, mas como quem vai para uma necessidade.
Do governo:
Enquanto tal, tem por finalidade zelar pelo bem dos súbditos, públicos ou privados.
Não proporciona o que é útil a si mesmo, mas aos súbditos, logo quem o pratica deve usufruir de proveito da arte dos lucros que acompanha a arte ou governo.
Tem por alvo a conveniência do mais fraco, e não do mais forte.
Detém a força e estabelece as leis conforme a sua conveniência.
Promulga as leis e faz saber que é justo cumprir com o que lhes convém, quem não o fizer transgride, e é punido porque violaram a lei e cometeram injustiça.
Obedecer aos governantes é um acto de justiça. Um modelo de justiça: obedecer aos governantes.
Os governantes são falíveis e podem cometer erros, formulam umas leis bem, outras mal.
Prescrevem actos aos súbditos, por vezes enganam-se.
Não é justo cumprir o prescrito, mas é justo corrigir a lei rápida e oportunamente.
Da justiça:
O justo, homem bom e sábio, com a sua acção não quer exceder o seu semelhante, mas o que lhe é diverso e oposto.
O injusto, homem mau e ignorante, com a sua acção quer exceder o semelhante e o seu oposto.
A justiça é virtude e sabedoria, gera a concórdia e a amizade.
A injustiça é maldade e ignorância, vício ou coisa vergonhosa, produz as revoltas, os ódios e as contendas, incapacitando de empreender qualquer coisa em comum.
A justiça é mais forte que a injustiça.
Da injustiça:
A injustiça originando-se numa pessoa, ela perde a sua força, é incapaz de actuar, vive a revolta e a discórdia, tornando-se inimigo de si mesmo e dos outros.
Originando-se entre duas pessoas, elas ficam divididas, odientas e adversárias uma da outra e dos que são justos.
Originando-se numa entidade, incapacita-a de actuar consigo mesma, por dissensão e discordâncias no seu seio, tornando-se inimiga de si mesmo, de todos os que lhe são contrários e justos.
Da justiça de novo:
Os justos são sábios, melhores e capazes de actuar em conjunto. Têm uma vida melhor e são mais felizes.
A função de uma coisa é o que ela executa.
Tem uma virtude própria o que está encarregado de uma função.
A alma tem a sua virtude própria.
Uma alma boa governa e dirige bem.
A justiça é uma virtude da alma e a injustiça um defeito.
A alma justa e o homem justo vivem bem.
Os homens justos vivem bem, são felizes e virtuosos.
Nos injustos é o oposto.
A justiça é mais vantajosa.
Dou por terminado o pórtico.
Este livro, lido com calma e serenidade durante muitos dias, deu-me alento na reflexão sobre o momento presente. Ficou um grande apreço por Sócrates o Filósofo, segundo Platão. Espero cá voltar.
António Martins, no Porto, em 28.05.2010