Olhe-se para o tempo que já passou.
É sempre difícil calcular o que se ganhou e o que se perdeu. No
evoluir da vida perdem-se provas de existência, quer de vidas, quer de obras.
Quantas vezes, não ficamos pelo “diz-se que”! Alguém viu, alguém disse que
fulano era isto e aquilo. Só nos resta indagar através dos objectos
arqueológicos e dos documentos históricos deste ou daquele em que depositamos
garantias quanto à verdade de factos e acontecimentos, ficando à espera que,
mais tarde ou mais cedo, surja algo que nos preencha o puzzle de alguém que se
admira, seja da vida, seja do seu pensamento. E, quando se fala do seu
pensamento, tem-se a intenção de ficar mais perto da sua visão das coisas e do
mundo. Até lá, ficamos num estado de hibernação do consolo.
As informações acerca deste brilhante pensador e activo cidadão
jónico, não atingem o nível que muitos desejariam, porque a sua razão de vida
ficou com aqueles com quem a partilhou e a sua obra não resistiu ao evoluir dos
tempos.
Recentemente,
através de escavações arqueológicas efectuadas naquele que terá sido o antigo
Mercado de Mileto, foi descoberta uma estátua mutilada e decapitada, onde se
encontrava inscrito o seu nome. O que pressupõe que, os seus concidadãos, em reconhecimento
pelos seus méritos políticos e culturais, a mandaram erigir em sua honra.
Portanto,
não se está a falar de um homem qualquer.
Existem informações, poucas é certo, que resistiram ao tempo e
chegaram até aos nossos dias, acerca da sua vida, obra e pensamento, as quais
foram transmitidos por várias fontes ao longo dos séculos posteriores à sua
morte.
Vários doxógrafos se pronunciaram sobre
Anaximandro, desde os peripatéticos Aristóteles (séc. III a.C.) e o seu amigo de confiança e sucessor na
escola Teofrasto
(séc. III e II a.C.), passando por Apolodoro, -o Ateniense (séc. II a.C.), Diógenes Laércio (? séc. II d.C.), …, a Suda (enciclopédia alexandrina), até aos
dias de hoje com os estudos de Kirk e Raven, entre outros.
Com isso e com probabilidades de errar
procura-se reconstruir a sua vida e indagar sobre a sua visão das coisas e do
mundo, ou seja, como é que ele construía a realidade circundante e a projectava
para além desse âmbito. Mas, aqui temos que perguntar: as fontes e os
comentadores transmitem as ideias de Anaximandro ou as deles? As fontes inspeccionam
as ideias dele com as suas próprias? Cada um percepciona a realidade e projecta
o mundo com o seu modo próprio.
Em resumo pode-se indicar o seguinte sobre
a sua vida:
-Era
um cidadão de Mileto, cidade da jónia, colónia grega na Ásia Menor,
hoje Turquia.
-Filho de Praxíades.
-Terá
nascido no 3º ano da 42 ª olimpíada (610/609 a.C.) e teria morrido pouco depois de
completar os 64 anos no ano 546/545 a.C., ou seja, +- no 2º ano da 58 ª
olimpíada. Aproximadamente, a sua vida estendeu-se de 610 a 545 a.C.
-Tales e Anaximandro teriam falecido por volta da mesma olimpíada.
-Era parente e discípulo de Tales. Homem muito estudioso e prático,
foi professor na Escola Jónica e depois sucedeu a Tales na direcção e condução
da mesma.
-A diferença de idade entre o dois situar-se-ia entre os 14 e os 24
anos.
-Gostava de se vestir solenemente.
-Como outros
filósofos gregos participou activamente na vida política, tendo desempenhado altos
cargos na sua cidade e externamente.
-Terá sido um
grande viajante. Supostamente liderou a expedição que fundou a colónia de Apolónia
no Mar Negro, uma das muitas colónias gregas criadas para desanuviar a
superpopulação das outras existentes.