sábado, 4 de fevereiro de 2012

“Anónimo” I


Ouço falar muito de “anónimo” e “anónimos”.
Nós vivemos numa sociedade carente de etiquetas. É etiquetas para tudo e para nada. São exigidos nomes e números para tudo e mais alguma coisa. Foi-se mais longe, já não chega o nome, é preciso a pessoa, o nome, todos os números, a ponta do dedo, a íris, o ip e o adn. Mas, enveredou-se, para muito mais longe é contrato assinado para tudo e mais alguma coisa. Muitas destas coisas são precisas e para algumas delas não se vislumbra a utilidade face aos resultados ou aos objectivos que se pretende.
Somos muitos e diferentes, onde muitos são desconhecidos e alguns mais ou menos conhecidos. Manter a dúvida corrompe e a etiqueta sempre ajuda a atenuar a dor. Vivemos socialmente de acordo com convenções aceites que temos de respeitar. Alguns, embora as aceitem, não as respeitam, ao não o fazer põem em causa a sociedade, no todo ou em parte.  
Estamos num mundo vastíssimo de uma imensidão de coisas e, por questões de utilidade, necessidade e entendimento é imperioso diferenciar umas das outras. Para tal, adoptamos convenções. Mas, o que fica para além das bordas da convenção?

“Anónimo” é um termo da língua portuguesa que deriva de outro termo grego “anónymos”, cujo significado é “sem nome”.
Alguns dicionários da língua portuguesa atribuem-lhe como qualificativo “sem nome”, “que não está assinado”, “não assinado” ou “que não se quer dar a conhecer”.

Esta terminologia remete-nos para algo corpóreo, no sentido substancial e formal, constituído por elementos fundamentais, ordenados sequencialmente segundos itens. Estamos perante algo conceptualizado como “mensagem”, fulcro na comunicação entre pessoas e que segue uma convenção. Pelos vistos, na sequência falta um elemento fundamental, a assinatura do autor da mensagem. Apesar de possuir todos os outros elementos, falta este elemento singular próprio do criador. Ele não cumpriu com as regras convencionadas e aceites, e daí se poderá deduzir que ele não se quer se dar a conhecer. Este facto, não impede a tomada de consciência sobre mensagem no seu todo, não impede a análise da sua substância e da sua forma. Seguindo à risca a convenção, e apesar da tomada de consciência citada, ela pode ser rejeitada ou colocada em suspenso, até à reposição do elemento em falta. O que dependerá da valoração que efectuamos à coisa. Ela tem algo substantivo que impele ao diálogo, embora possua uma deficiência formal. O problema, aqui, é que não somos capazes de reconhecer autoridade ao criador para o afirmado, para o exposto ou para o solicitado. O que não significa o abandono total da mensagem ou do diálogo, este segue por outras vias, até ao cumprimento das regras. Digamos que estamos a comunicar com alguém sem cara. Ora, o diálogo estabelece-se entre pessoas num meio, usando um canal de comunicação natural ou artificial. Nesta forma, o criador emitente apresenta-se perante o receptor, valorizam-se os intervenientes e a mensagem, reconhece-se a autoridade dos intervenientes e responsabilizam-se mutuamente perante o afirmado, exposto ou solicitado no contraditório. E, desse contraditório há-de sair o consenso mútuo que leva à solução da questão levantada. Digamos que os dois se sintonizam quantos aos meios para atingir fins.  
Mas, o que levaria alguém a equacionar uma mensagem e a publicitá-la sem elementos fundamentais, nomeadamente e como exemplo, com a ausência de elementos de facto como a sua assinatura, o seu nome, a sua morada, o seu número de telefone, …, não permitindo que alguém o reconheça como pessoa determinável?
Convém frisar, que nos tempos que correm, por falta de descrédito na confiança atribuível a uma pessoa, ela precisa de andar na carteira com documentos justificativos de muitos dos seus elementos fundamentais. Caminhamos para o ponto das cópias autenticadas comprovativas da identificação começaram a circular junto com uma mensagem num diálogo? E se tal vier a ocorrer, efectivamente, então estamos perante uma sociedade em que a confiança não faz parte do conceito pessoa. Perante tal, andamos a enganar-nos uns aos outros. Viver-se-á numa sociedade em que todos estão juntos, mas não conseguem estabelecer em pleno vínculos relacionais. Jogando na antevisão, sem qualquer ponta de pessimismo, existe a probabilidade de fazermos parte de uma sociedade humana descaracterizada, a sociedade do homem indivíduo e só.

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