As menções de Anaximandro
No hilozoismo da
cultura grega antiga todas as coisas possuem uma génese, uma vida e a sua
aniquilação; em que o elemento vital, é um elemento anímico, uma alma, não
necessariamente um espírito (alma inteligente).
Anaximandro menciona
a geração (nascimento) e a corrupção (morte), aplicados a todas as coisas.
Portanto, ele participa desse hilozoismo. Acrescenta-lhes, no entanto, a sua
tese:
-Há um elemento,
o apeiron, do qual todas as coisas surgem, auferem a sua vitalidade,
nele desaparecem e retornam quando perdem completamente essa vitalidade.
Posição que é próxima de Tales.
Também menciona uma regra ou ordem no surgir e desaparecer das coisas.
Não aponta para um caos, mas para um Kósmos, segundo o
seguinte:
Um dos sentidos básicos desta palavra grega é “ordem”.
É de notar que é comum a toda a civilização grega que a realidade é um só
kósmos enquanto princípio ordenador anímico que a mantém unida e ligada nas
suas partes. Ora, tal era necessário desde que a noção de ligação e de união
não fossem afastadas uma da outra. No entanto, isto remete-nos para as ideias
de destino, de onde sobressaem as ideias de:
- Moira - entidade transcendente que amarraria os nós
das existências temporais dos seres, e de
- Anake - personificação divina da Necessidade, com um papel semelhante.
Quanto à sua ideia de que um ser estar fadado ao
aniquilamento, isto é, o ser surge para perecer, aponta para uma concepção
trágica da existência, concepção constante
nas epopeias de Homero, nas Cosmogonias de Hesíodo, e na Tragédia ática (Esquilo, Sófocles,
Eurípedes). É mais uma noção ligada à noção de Destino. Destino, enquanto sentido
transcendente que rege e determina todas as coisas, uma espécie de julgamento universal
oculto, o qual tem subjacente um princípio
julgador oculto, o que não deixa de ser mais um elemento anímico.
O notado anteriormente torna-se mais consistente se
for tomado o tema da aniquilação
como expiação. Morrer, perecer, deixar de ser, são punições infligidas ao
ente que surge arbitrariamente da fonte inicial, o que é injusto, e cuja
existência é violenta. O que leva a vincular-se à tradição Orfismo aplicado à
alma humana, enquanto potência fatalista, em que a existência é uma sina, todo
o agir ou ser tem um carácter negativo e a morte não passa de uma expiação ou
redenção. Ora, Anaximandro vislumbra essa potência em todos os entes. Ele
transpõe estas ideias, generaliza o princípio órfico porque admite a presença
universal do elemento anímico.
Anaximandro menciona também uma ordem do tempo
O inscreve na concepção do tempo cíclico, circular, do
eterno retorno dos seres, uma versão em escala cósmica da metempsicose ou o retorno à
existência (para alguns, entendida mais estritamente como reencarnação). O tempo só retorna
porque há algo depois do fim, porque o princípio se reitera, se repropõe, se
manifesta outra vez.
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