quinta-feira, 14 de abril de 2016

Metafísica de Anaximandro - MD - Momento 93

A geração não vem de um elemento em mudança, mas a partir do ilimitado, através da separação de contrários devido ao eterno movimento.
Todos os ciclos em sequência de criação, evolução e destruição são fenómenos naturais, que ocorrem a partir do ponto em que a matéria abandona e se separa do apeiron. Anaximandro não dá à criação o carácter material que o seu mestre defendia.
Como o apeiron é infinito e qualquer um dos elementos considerados não o é, tal permite ao apeiron deter o poder de gerar e corromper todas as outras coisas. Dado o seu movimento eterno, o tempo é tal que a geração, a existência e a destruição num universo são limitadas. Assim, necessariamente, o que tem geração ou início tem também fim, o término da sua corrupção. E, a mudança dos seres não pode em si e por si mesmos se determinar.
Durante a luta os contrários vão perdendo o poder que detinham, ou seja vão perdendo a sua vitalidade. E, quando já não possuem qualquer poder cessa a luta entre eles, sendo reabsorvidos no apeiron, ou seja nele desaparecem ou a ele retornam.

A Injustiça
O apeiron é a Lei do Destino e da Justiça:
Tudo o que nasce, um dia vai morrer. Tudo o que é quente, um dia vai esfriar. Tudo o que é grande, pode ser dividido em pedaços mais pequenos. O fogo pode ser combatido com água, e como resultado, fogo e água deixam de existir. Tudo o que existe, somente existe em função de uma emancipação do ser eterno e portanto as coisas ao se separarem deste, são dignas de castigo.
Todo o dualismo entre opostos é uma forma de luta, e como tal, de injustiça. 
A injustiça consiste na predominância de um contrário sobre o outro, no próprio facto de serem contrários, e na alternância dos contrários.
A Justiça é a pacificação dos opostos no Infinito pela sua reintegração neste.
Como
-O mundo nasce da cisão de contrários, de onde se identifica a primeira injustiça, a qual deve ser expiada com a morte ou fim do próprio mundo, que depois renasce, infinitamente, segundo determinados ciclos de tempo.
-O nascimento de cada contrário implica imediatamente a sua contraposição ao outro contrário.
Por essas duas razões, todo o nascimento é uma injustiça, a ser expiada com o futuro aniquilamento.
Assim, sendo, todo o ser finito, por ser limitado, é injusto.     
Há dupla injustiça e, consequentemente, dupla necessidade de ex­piação, visto que:
1 - O nascimento do mundo dá-se através da cisão da unidade do princípio em opostos;
2 – Após a cisão, cada um dos opostos tenta usurpar, com ódio pelo outro, a condição de único sobrevivente e dominador. Uma usurpação, ao mesmo tempo, do lugar e dos direitos do imortal e indestrutível.
Pode-se dizer que as coisas criadas cometem injustiças; é necessário, tendo em conta as injustiças de umas sobre as outras, umas pagarem (penalização) e outras receberem (recompensa), de acordo com a ordenação do tempo.  

Em resumo:
1 – Na geração, o apeiron é o princípio ou o elemento de onde as coisas surgem.
Na corrupção, é no apeiron as coisas desaparecem ou se aniquilam;
O apeiron é Lei da Necessidade:
2 - A geração e corrupção dão-se junto a este princípio e são regidas por ele,  segundo a Lei da Necessidade.
O Princípio é Lei do Destino e da Justiça:
3 - Os diversos seres participam da aniquilação ou corrupção uns dos outros, havendo concessão de justiça e deferência. Ou seja, aniquilar um ente é fazer Justiça, donde se infere que todo surgir de algo, todo escapar da fonte primeira, é uma “injustiça”, uma violência;
4 - O modo como cada ente faz justiça ao outro através da injustiça: cada coisa ao surgir, aniquila violentamente uma outra que lhe precedia, “vingando”, por sua vez, o que aquela fizera com uma outra a qual aniquilou;

5 - Esta “expiação” universal de todas as coisas, não se dá simultaneamente, ao mesmo tempo, mas segundo a ordem do tempo.

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