A geração não vem de um elemento em mudança, mas a
partir do ilimitado, através da separação de contrários devido ao eterno
movimento.
Todos os ciclos em sequência de criação, evolução
e destruição são fenómenos naturais, que ocorrem a partir do ponto em que a
matéria abandona e se separa do apeiron. Anaximandro não dá à criação o
carácter material que o seu mestre defendia.
Como o apeiron é infinito e qualquer um dos
elementos considerados não o é, tal permite ao apeiron deter o poder de gerar e
corromper todas as outras coisas. Dado o seu movimento eterno, o tempo é tal
que a geração, a existência e a destruição num universo são limitadas. Assim,
necessariamente, o que tem geração ou início tem também fim, o término da sua
corrupção. E, a mudança dos seres não pode em si e por si mesmos se determinar.
Durante a luta os contrários vão perdendo o poder
que detinham, ou seja vão perdendo a sua vitalidade. E, quando já não possuem
qualquer poder cessa a luta entre eles, sendo reabsorvidos no apeiron, ou seja
nele desaparecem ou a ele retornam.
A Injustiça
O apeiron é a Lei do Destino e da Justiça:
Tudo o que nasce, um dia vai morrer. Tudo o que é
quente, um dia vai esfriar. Tudo o que é grande, pode ser dividido em pedaços
mais pequenos. O fogo pode ser combatido com água, e como resultado, fogo e
água deixam de existir. Tudo o que existe, somente existe em função de uma
emancipação do ser eterno e portanto as coisas ao se separarem deste, são dignas
de castigo.
Todo o dualismo entre opostos é uma forma de luta, e
como tal, de injustiça.
A injustiça consiste na predominância de um
contrário sobre o outro, no próprio facto de serem contrários, e na alternância
dos contrários.
A Justiça é a pacificação dos opostos no Infinito pela
sua reintegração neste.
Como
-O mundo nasce da cisão de contrários, de onde se
identifica a primeira injustiça, a qual deve ser expiada com a morte ou fim do
próprio mundo, que depois renasce, infinitamente, segundo determinados ciclos
de tempo.
-O nascimento de cada contrário implica imediatamente
a sua contraposição ao outro contrário.
Por essas duas razões, todo o nascimento é uma
injustiça, a ser expiada com o futuro aniquilamento.
Assim, sendo, todo o ser finito, por ser limitado, é
injusto.
Há dupla injustiça e, consequentemente, dupla
necessidade de expiação, visto que:
1 - O nascimento do mundo dá-se através da cisão
da unidade do princípio em opostos;
2 – Após a cisão, cada um dos opostos tenta usurpar,
com ódio pelo outro, a condição de único sobrevivente e dominador. Uma
usurpação, ao mesmo tempo, do lugar e dos direitos do imortal e indestrutível.
Pode-se dizer que as coisas criadas
cometem injustiças; é necessário, tendo em conta as injustiças de umas sobre as
outras, umas pagarem (penalização) e outras receberem (recompensa), de acordo
com a ordenação do tempo.
Em resumo:
1
– Na geração, o apeiron é o princípio ou o elemento de onde as coisas surgem.
Na corrupção,
é no apeiron as coisas desaparecem ou se aniquilam;
O apeiron é
Lei da Necessidade:
2 - A geração e corrupção dão-se junto a este
princípio e são regidas por ele, segundo a Lei da Necessidade.
O Princípio é Lei do
Destino e da Justiça:
3 - Os diversos seres participam da aniquilação ou
corrupção uns dos outros, havendo concessão de justiça e deferência. Ou seja,
aniquilar um ente é fazer Justiça, donde se infere que todo surgir de algo,
todo escapar da fonte primeira, é uma “injustiça”, uma violência;
4 - O modo como cada ente faz justiça ao outro através
da injustiça: cada coisa ao surgir, aniquila violentamente uma outra que lhe precedia,
“vingando”, por sua vez, o que aquela fizera com uma outra a qual aniquilou;
5 - Esta “expiação” universal de todas as coisas, não
se dá simultaneamente, ao mesmo tempo, mas segundo a ordem do tempo.
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