Pela primeira vez, Anaximandro atribui ao primeiro
princípio a palavra “arché”, que em grego possui
os dois sentidos origem e começo.
“O Arché” é “a origem”, “o começo”, “o princípio”
(*), de todas as outras coisas que existem na natureza e proliferam pelo
universo.
(*)
A palavra princípio tem pelo menos dois sentidos. Um é ”o começo de algo” e a
outro é “a lei que rege algo no seu existir”.
Só existe um só primeiro princípio, a partir do
qual todas as outras coisas são geradas, é “o arché da physis”, unidade
primordial (uno) por trás da aparente diversidade dos fenómenos.
Para melhor designar o arché formula uma palavra que
negasse todas as demais, pois até mesmo o facto de a nomear, transformaria esse
princípio numa coisa. A palavra escolhida é apeiron.
A sua tese principal: O arché da physis é o
apeiron.
Anaximandro, a partir da percepção bem dirigida
sobre o mundo físico e abstraindo-se dele, indo do sensível ao inteligível,
concebe uma natureza metafísica que é o princípio e suporte do mundo real. Com
o seu pensamento passamos a ter uma ideia do princípio das coisas (como as
coisas nascem), da mobilidade possível delas (como se desenrolam) e do seu fim
(morte), de modo a termos a sua noção sobre as mudanças constantes da realidade.
Mas, deixa-nos a pista para aquilo que alimenta as
coisas no seu existir e o que as coisas devem ter de modo a serem alimentadas,
ie, pistas para as futuras noções que virão a ser desenvolvidas, como as noções
de matéria, massa, energia, e movimento, entre outras. Pelo que nos é dado a
perceber, no pensamento de Anaximandro não se faz a destrinça entre a ideia de
matéria e ideia de massa, conforme hoje se enuncia. Apesar disso, vai mais
longe, dá-nos a indicação para a entrada nas coisas a caminho do seu fundamento,
no sentido de encontrar na sua constituição os seus elementos mais ínfimos, no
caso dele fica-se pelos contrários.
Características do apeiron
Vimos que Anaximandro depois de constatar várias
coisas duvidou que uma coisa existente na ordem natural (realidade física), e
em certa medida universal, com as características ou qualidades abaixo
indicadas, pudesse ser o arché da physis:
Gerado – o originado por algo ou alguém
Físico - o relativo às condições ou leis da
natureza, algo natural
Formado – o que vai adquirindo ou adquire uma
forma
Sentido – o presente aos nossos sentidos e que os
afecta. Daí associarmos a palavra ‘concreto’ ou a palavra ‘real’, será um
objecto concreto, um objecto real. Sendo sentido é objecto da nossa
experiência.
Definido – algo ao qual podemos atribuir um
significado, algo em relação ao qual não temos dificuldade em atribuir um nome.
Limitado – o que tem limites espácio-temporais.
Determinado – aquilo para o qual podemos encontrar
a sua determinação no espaço e no tempo.
Finito – o que tem um fim.
Perecível – o que é susceptível de deixar de
existir.
À primeira vista parece que Anaximandro se enfoca
numa delas, caso de “limitado”, mas tal não será bem assim.
O ilimitado
Se o princípio não pode ter qualquer uma das características
anteriores, então o arché terá que ser “o sem limites” (o ilimitado). A palavra
que ele encontrou para esta proposta foi “apeiron”, palavra composta do prefixo
a (sem) e pelo término “peiría” ou “peras”, que se traduz por limites, contornos,
bordas, fronteiras ou extremidades.
Se é “o sem limites” tal transmite-nos a ideia que
estamos focados em algo que é i-limitado; que não podemos definir, é
in-definido; também não o podemos determinar, é in-determinado; não é como as
coisas finitas que nos são presentes, é in-finito, ou seja, estende-se no
espaço e no tempo muitíssimo para além do que a nossa imaginação possa conceber;
é algo que não experimentamos pelos sentidos, não adquire uma forma real.
Acontece, porém, que ele não deixou uma explicação
concreta sobre o que quer dizer com “o sem Limites”, o que gera larga
controvérsia nos dias de hoje. Uma boa aproximação ao que ele entendia seria
considerar o apeiron como:
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