quarta-feira, 23 de março de 2016

Metafísica de Anaximandro - MD - Momento 89

Pela primeira vez, Anaximandro atribui ao primeiro princípio a palavra “arché”, que em grego possui os dois sentidos origem e começo.
“O Arché” é “a origem”, “o começo”, “o princípio” (*), de todas as outras coisas que existem na natureza e proliferam pelo universo.
(*) A palavra princípio tem pelo menos dois sentidos. Um é ”o começo de algo” e a outro é “a lei que rege algo no seu existir”.
Só existe um só primeiro princípio, a partir do qual todas as outras coisas são geradas, é “o arché da physis”, unidade primordial (uno) por trás da aparente diversidade dos fenómenos.
Para melhor designar o arché formula uma palavra que negasse todas as demais, pois até mesmo o facto de a nomear, transformaria esse princípio numa coisa. A palavra escolhida é apeiron.
A sua tese principal: O arché da physis é o apeiron.
Anaximandro, a partir da percepção bem dirigida sobre o mundo físico e abstraindo-se dele, indo do sensível ao inteligível, concebe uma natureza metafísica que é o princípio e suporte do mundo real. Com o seu pensamento passamos a ter uma ideia do princípio das coisas (como as coisas nascem), da mobilidade possível delas (como se desenrolam) e do seu fim (morte), de modo a termos a sua noção sobre as mudanças constantes da realidade. Mas, deixa-nos a pista para aquilo que alimenta as coisas no seu existir e o que as coisas devem ter de modo a serem alimentadas, ie, pistas para as futuras noções que virão a ser desenvolvidas, como as noções de matéria, massa, energia, e movimento, entre outras. Pelo que nos é dado a perceber, no pensamento de Anaximandro não se faz a destrinça entre a ideia de matéria e ideia de massa, conforme hoje se enuncia. Apesar disso, vai mais longe, dá-nos a indicação para a entrada nas coisas a caminho do seu fundamento, no sentido de encontrar na sua constituição os seus elementos mais ínfimos, no caso dele fica-se pelos contrários.

Características do apeiron

Vimos que Anaximandro depois de constatar várias coisas duvidou que uma coisa existente na ordem natural (realidade física), e em certa medida universal, com as características ou qualidades abaixo indicadas, pudesse ser o arché da physis:
Gerado – o originado por algo ou alguém
Físico - o relativo às condições ou leis da natureza, algo natural
Formado – o que vai adquirindo ou adquire uma forma
Sentido – o presente aos nossos sentidos e que os afecta. Daí associarmos a palavra ‘concreto’ ou a palavra ‘real’, será um objecto concreto, um objecto real. Sendo sentido é objecto da nossa experiência.
Definido – algo ao qual podemos atribuir um significado, algo em relação ao qual não temos dificuldade em atribuir um nome.
Limitado – o que tem limites espácio-temporais.
Determinado – aquilo para o qual podemos encontrar a sua determinação no espaço e no tempo.
Finito – o que tem um fim.
Perecível – o que é susceptível de deixar de existir.
À primeira vista parece que Anaximandro se enfoca numa delas, caso de “limitado”, mas tal não será bem assim. 
O ilimitado
Se o princípio não pode ter qualquer uma das características anteriores, então o arché terá que ser “o sem limites” (o ilimitado). A palavra que ele encontrou para esta proposta foi “apeiron”, palavra composta do prefixo a (sem) e pelo término “peiría” ou “peras”, que se traduz por limites, contornos, bordas, fronteiras ou extremidades.
Se é “o sem limites” tal transmite-nos a ideia que estamos focados em algo que é i-limitado; que não podemos definir, é in-definido; também não o podemos determinar, é in-determinado; não é como as coisas finitas que nos são presentes, é in-finito, ou seja, estende-se no espaço e no tempo muitíssimo para além do que a nossa imaginação possa conceber; é algo que não experimentamos pelos sentidos, não adquire uma forma real.

Acontece, porém, que ele não deixou uma explicação concreta sobre o que quer dizer com “o sem Limites”, o que gera larga controvérsia nos dias de hoje. Uma boa aproximação ao que ele entendia seria considerar o apeiron como:

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