segunda-feira, 12 de março de 2012

Ler e Schopenhauer



É um dos meus companheiros com quem convivo nas horas que considero vagas.
Para além de nos falar como ele encara a leitura, também fala como ele encara o amor, a vontade, …, e como é viver (“Arte de viver” – uma grande discussão que tivemos). Mas, todos aqueles que lêem os outros com a visão profunda da crítica, sabem o que procuram, e a leitura não passa, nem passará de um lançar de pistas. É sempre bom ter pistas porque muitas vezes as coisas acontecem e fazem-se, mas não se reflecte com profundidade sobre elas. Há períodos da vida em que é bom conviver com gente que pensa, melhor dizendo com muita gente que pensa a fundo.

Uma casa tem a sua frontaria, mas também tem o seu interior, cada um abraça-as como entende. Repare-se que a casa só é casa se tiver, entre outras coisas, a frontaria e o interior, sem descurar a paisagem que a envolve. Se passarmos a vida a olhar insistentemente para a frontaria, mesmo que seja por todos os lados, pouco acrescentaremos a aquilo que chamamos casa. Quantas vezes não acontece que nem sequer olhamos para a frontaria, quanto mais para o interior.
Só que curiosidade mata. Batemos à porta. Não nos respondem. Procuramos entrar pelas janelas, levantamos as telhas, fazemos buracos no chão e fazemos asneiras também. A intenção não é roubar ninguém, é, pura e simplesmente, matar a fome à dúvida, depois da perplexidade, e assim ir calcorreando essa e outras curiosidades.
Ai, quando se encontra a linha da meada! Puxamos, puxamos, cada vez mais experimentando a dificuldade. Sempre resta, no entanto, aquela satisfação de se estar nuns degraus mais acima. Sentados num deles, pensamos, é pouco e ainda faltam tantos. Mas, porra, somos homens, não vai à força de músculo, vai com o auxílio de instrumentos.    

Então, qual será o prazer de tamanha façanha?
A resposta é rápida e ligeira.
Com os estragos que fiz nesta, melhor abarcarei a próxima. Não será mentira que até para fazer estragos, concretizamos alguns passos no interior da casa.   

É facto que ler e escrever muito dos outros tem os seus perigos. Esse propósito concretizado não será o conhecer dos nossos limites, o deslumbramento pelo o que não passa nas nossas ideias ou o tocar indelével no inatingível?
Ler e escrever muito dos outros vai para as gavetas e de lá um dia sairá as novas ideias.  

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