segunda-feira, 19 de março de 2012

Casa de Lava


Filme de Pedro Costa


Inês de Medeiros
Isaach de Bankole

Lisboa
Cabo Verde

O Pedro Costa é um obreiro que com as suas ferramentas constrói dificuldades à nossa mente, permitindo-nos a análise.
Escolheu bem o local, as pessoas, o movimento, a luz e os sons para desenvolver a sua obra.
Temos vindo a dizer “mundo”, em virtude das mudanças das coisas. Os movimentos telúricos contribuem para isso.
Há muitos milhões de anos, esses movimentos ciclópicos fizeram surgir no meio do Atlântico umas quantas rosas, que mais parecem cactos carregados de espinhos, aguardando ansiosamente por água. Como ela raramente aparece, o inóspito conduz ao vegetar da vida, à quase morte, ao sujeito da morte súbita, ao convívio entre a vida e a morte, sempre na busca da sobrevivência. Ficou a morna, a “Sodade” dançada descalça, gente boa, comida do melhor e uns quantos narizes, bocas e cabeças com muito de europeu, num suporte africano.
A mulher portuguesa, flor só e solidária, procura esperançosa por uma nova vida, lá longe, acompanhando a fronteira entre a vida e a morte. Com a sua força inquebrantável debate-se perante o letárgico e o inóspito inesperados. Mantém-se firme, expulsa e acolhe sentimentos. Impõe as suas regras de conduta, trás de novo a vida, quando para muitos não importa, é natural. Luta e colabora por melhor sobrevivência naqueles locais, só que alguns dias e uma só pessoa são pulsões pouco intensas para tanto infortúnio.
Por muito que não queira, concluiu que todo o seu esforço foi em vão porque face a todo aquele condicionalismo tudo volta ao mesmo, à luta pela vida, com a morte sempre a espreita, e aqui e ali uma vontade de fugir. Mas, para onde? Para uma cova?
Não, isso não.   
Esquecemos que ficou muito de nós naquelas paragens, onde se luta pela manutenção à tona de água.  
A solução nunca é um gueto, nem a mágoa é totalmente apagada com uma garrafa de água ardente.

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